Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 10

máxima do
Diligite homines interficite errores –
aplicada à caricatura. (LIMA,
1963, p.746).
Ainda na apresentação ao poema, Dr. Semana comenta sobre o tema da
independência e a fama do poeta: “Assunto é este que faz heróis e faz poetas. Se o Dr.
Velho da Silva não gozasse de há muito a pública estima, agora a conquistara” (DR.
SEMANA, 06 set. 1868, p. 3226)
5
. Termina a recomendação de forma não menos elogiosa:
“Quem, ao escutar o CANTO À INDEPENDÊNCIA DO BRASIL não exclamará: ‘Conheço
esta voz; conheço-a: vem do Pantheon’” (DR. SEMANA, 06 set. 1868, p. 3226). Em sentido
literal, acreditaria Dr. Semana que o poeta entraria no cânone dos grandes poetas. Claro
está, porém, que tal expressão sugere apenas uma exagerada gentileza do editor.
Segundo a
Enciclopédia de Literatura Brasileira
, organizada por Afrânio Coutinho e
José Galante de Sousa, o poeta José Maria Velho da Silva, autor deste Canto, foi ainda
romancista, autor de obras didáticas, orador, doutor em Medicina, professor de poética e
literatura, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), cavaleiro da Ordem
da Rosa e da Ordem de Cristo (1989, p. 1247)
6
.
Como informa Roberto Acízelo de Souza em
O império da eloquência
:
retórica e
poética no Brasil oitocentista
(1999), o nome de José Maria Velho da Silva quase foi
excluído de seu livro em razão da redundância de seu compêndio em relação aos demais.
Acízelo, no entanto, optou por incluí-lo porque: “[...] como esse médico e catedrático do
Colégio Pedro II também teve seu livro inscrito entre os oficiais daquele estabelecimento
acabamos concluindo que merecia tratamento idêntico ao dispensado aos outros autores”
(SOUZA, 1999, p. 79). Afirma ainda o crítico que o nome de Velho da Silva, com exceção de
Laudelino Freire (1923, p. 187-189), só é mencionado de forma brevíssima por Sílvio
Romero (1888), José Veríssimo (1916), Nélson Werneck Sodré (1938), Afrânio Coutinho
(1955-59) e Antônio Cândido (1959), e que sua tese para a cátedra de retórica, poética e
literatura nacional não passa de uma apresentação simplória de um ponto do programa
escolar. Sustenta ainda que Velho da Silva também seria um poeta menor, e só não seria
tão insignificante como professor, decorrendo de sua notoriedade no magistério a adoção de
suas
Lições de retórica
pelo sistema de ensino.
5
Não se sabe o porquê da estima pública ao Dr. Velho da Silva: se como médico ou poeta e professor. O que se sabe é que
até 1868 ele ainda nada publicara, e inclusive na
Semana Ilustrada
só há mais duas referências a ele, e posteriores a 68: em
9/01/1876 noticia o romance
Gabriela
, como “interessantíssimo” e “bem escrito”, transcrevendo as considerações preliminares
do autor (
Semana Ilustrada
, p.6295, “Publicações”); e em 16/01/1876, também em “Publicações”, entre outros anúncios
comenta em três linhas
O Silabário
, “livrinho para a primeira infância”. “Recomendamo-lo” é o que o editor escreve a respeito
(
Semana Ilustrada
, p. 6303).
6
Há algumas confusões quanto à biografia de José Maria Velho da Silva, pois há algumas informações de que este teria sido
também mordomo da casa imperial, de 1846 a 1854. No entanto, são pessoas diferentes. Há o mordomo e conselheiro,
nascido em 1795 e falecido em 1860, e o escritor, médico e retórico, autor deste poema. Outro equívoco também acontece:
este escritor não é filho do outro José Maria, como informam algumas fontes. Há uma informação de que o engenheiro José
Maria da Silva Velho seria filho do médico e amigo íntimo do imperador, e neto do conselheiro e mordomo. Mas o conselheiro
teve um filho advogado e uma filha. E pelas datas de nascimento de ambos, o conselheiro não poderia ser pai do escritor,
professor e médico José Maria. Importante para o esclarecimento dos fatos foi o
Esboço biográfico do Conselheiro José Maria
Velho da Silva
(1861), este, sim, o mordomo da casa imperial.
1,2,3,4,5,6,7,8,9 11,12,13,14,15,16,17,18,19,20,...328
Powered by FlippingBook