Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 9

DA PRÉ-COLONIZAÇÃO À INDEPENDÊNCIA: ANÁLISE DE “CANTO À
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL”, DE JOSÉ MARIA VELHO DA SILVA
Adriana DUSILEK
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O “Canto à Independência do Brasil”, de José Maria Velho da Silva (1811-1901), foi
publicado na 404ª edição da Revista
Semana Ilustrada
, em 6 de setembro de 1868,
ocupando quase todo o número do periódico
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. Na apresentação, o Dr. Semana, pseudônimo
e personagem que aparece em todas as edições da Revista, e é considerado o “alter ego”
do editor alemão e também caricaturista Henrique Fleiuss (1824-1882), parabeniza os
leitores porque ao “inspirado cantor da pátria” é cedido o espaço das colunas “Pontos e
vírgulas” e “Chronica para-lamentar”
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. Afirma Dr. Semana:
Quase à última hora disse-nos o poeta: “Eu cantei a aurora da nossa
liberdade, eu saudei o sol de 7 de setembro; aqui está o canto; aqui está a
saudação”.
Venha a inspirada lira do mestre; solte aos quatro ventos o hino da pátria
livre: as livres florestas lhe respondem, e os livres corações o aplaudem
(DR. SEMANA, 06 set.1868, p. 3226).
Esse estilo laudatório do editor na apresentação ao Canto pode ser vinculado à
amizade existente entre Henrique Fleiuss e o Imperador, já que o poema exulta os heróis da
pátria e a monarquia. A
Semana Ilustrada
, apesar de ser uma revista caricatural, cujo lema é
Ridendo castigat mores
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, é acrítica ao governo, deixando transparecer um tom
conservador, e colhendo, por sua opção ideológica, terminantes juízos de outros periódicos.
Sua posição, porém, não o impedia de fazer ferozes críticas aos costumes sociais. Como
escreveu Herman Lima (1897-1981), no segundo volume da
História da Caricatura no Brasil
:
O lápis habilíssimo de Henrique Fleiuss ensinou-nos, como Santo
Agostinho, a amar e poupar os homens para somente criticar os costumes
sociais, rindo-nos com eles dos nossos próprios defeitos. Era a grande
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Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD) – Faculdade de Ciências e Letras de Assis – Unesp – Univ. Estadual Paulista,
Campus de Assis – Av. Dom Antonio, 2100, CEP: 19806-900, Assis, São Paulo – Brasil. Bolsista CAPES. E-mail:
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Normalmente a Revista conta com 8 páginas, sendo 4 de ilustração (nas primeiras, quartas, quintas e oitavas páginas).
Nesse número, há 10 páginas, com mais duas ilustradas, como Suplemento da Semana. O poema “Canto à Independência do
Brasil” ocupa a maior parte da segunda página, além da terceira, da sexta e a maior parte da sétima página da edição 404.
Além do canto, fazem parte da edição, afora as ilustrações, a apresentação do Dr. Semana ao Canto e um poema curto
intitulado “A desaparição de uma estrela”, a respeito da atriz Aimée, que após 4 anos no Brasil, no elenco do Alcazar Lírico,
volta à França.
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“Pontos e vírgulas” é assinado por Dr. Semana, e “Chronica para-lamentar” é subscrito por “Agnus Populi”.
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Molière (1622-1673) teria colocado essa frase em Tartufo, mas essa máxima parece ter sido cunhada pelo poeta francês
Jean de Santeuil (1630-1697) a propósito da máscara de Arlequim, cujo busto decorava o proscênio da
Commédie Italienne
,
de Paris. Essa ideia de divertir e instruir ao mesmo tempo já estava, porém, na
Arte Poética
, de Horácio (65 a.C- 8 a.C).
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