Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 13

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Mais uma vez aparece o gigante que “jaz indolente” e que “nem sonha que a terra
lhe venham tomar”:
Incauto o gigante, lá jaz indolente
Zombando das fúrias das águas do mar;
Das selvas incultas na vida inocente
Nem sonha que a terra lhe venham tomar. (VELHO DA SILVA, 06 set. 1868,
p. 3226).
Mais seis vezes aparecerá a imagem do gigante: no fim da primeira parte, após
resumir o que aconteceria aos índios, que de “filho das matas, outr’ora feliz” passa a
definhar nos “ferros de vil servidão”, desperta o gigante “do sono maldito”, não gosta do que
vê e volta a adormecer; na primeira estrofe da segunda parte, em que o gigante teria
dormido “a longa noite de 300 anos”, sem saber o que eram “liberdade e porvir e nome e
glória”; na segunda estrofe da segunda parte surge o verso: “os gigantes do bosque, ei-los
por terra”, sugerindo a devastação da natureza para exploração de riquezas e para o
surgimento de povoados; já na terceira parte, na primeira estrofe, em vez de “gigante” o
poeta usa o termo “colosso” para se referir à transformação do país: “Em áureo pedestal que
afronta as eras/um colosso se ergueu [...]”; já na 26ª estrofe o gigante é o próprio D. Pedro I,
proclamando a Independência:
E gigante se ergueu dos céus n’altura,
E com a voz do trovão pelas montanhas
Soltara o brado –
Independência ou morte
Independência ou morte
– muito tempo
Reboou nas abóbadas do espaço. (VELHO DA SILVA, 06 set. 1868, p.
3231).
Por fim, na estrofe seguinte, novamente o gigante se confunde com a natureza, que
acorda e também grita a independência:
O gigante acordou, ergueu-se, ergueu-se
E sobre o Equador, bradara aos polos
Independência ou morte
– o rio, a serra
De espaço a espaço o brado repetiam
Como quem d’um letargo abrira os olhos
Sonhando prantos, despertando em risos. (VELHO DA SILVA, 06 set. 1868,
p. 3226).
Algo que chama a atenção na leitura desse extenso poema é a mudança de tom que
nele há, com contradições e oscilações, tanto estruturais quanto ideológicas.
Começando com as contradições e oscilações ideológicas, é possível observar que,
num primeiro momento, o índio é retratado, na primeira parte, como inocente, filho das
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