Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 32

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O correspondente alemão era Franz Kennipperlein
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e o italiano, Juó Bananére, sucessor de
Annibal Scipione (Oswald de Andrade). Certamente Juó Bananére, pseudônimo de
Alexandre Marcondes Machado, foi um dos maiores cronistas macarrônicos do Brasil, não
apenas pela extensão do material que produziu, mas pela agudeza com que se utilizou
deste recurso linguístico. Bananére escreveu as “Cartas do Abaix’o Pigues”, “O Rigalegio” e
“O Féxa”, em uma mistura intencional de italiano e português, expondo a voz do imigrante
italiano que vinha para o país. Sua forma de escrita se assemelhava ao falante não letrado
de São Paulo, pois como dizia o próprio Bananére, “a artugrafia muderna é uma maniera di
screvê, chi a genti escrive uguali como disse [...].” (BANANÉRE, 13 jul. 1912, não paginado)
No interior de
O Pirralho
, ao lado das correspondências macarrônicas, encontramos
várias narrativas epistolares em dialeto caipira. Aos olhos de hoje, o gênero carta pode
despertar curiosidade. Porém, num tempo em que a comunicação era feita desta forma,
nada mais esperado que ela fosse transplantada para o periódico em formato criativo. As
colunas de cartas, com alto teor sarcástico e cômico, retratavam a inserção do caipira na
cidade de São Paulo e o cotidiano na metrópole em formação. Os assuntos eram os mais
variados possíveis: os fatos ocorridos ao longo da semana em locais públicos, os problemas
relacionados à urbanização, a situação política, a vida do caipira na metrópole e assim por
diante. De acordo com Paula Janovitch (2003, p. 214), estas cartas constituíam-se quase
como crônicas da semana, já que se tratava de um estilo epistolar com teor de atualidades.
Ao longo dos sete anos de circulação de
O Pirralho
, foram encontrados
aproximadamente oito títulos distintos de cartas caipiras, sem levar em consideração a
variação de nome que um mesmo título poderia sofrer. Tentar contabilizar ou qualificar estas
cartas não é tarefa fácil tendo em vista que os cronistas não seguiram uma lógica de
publicação. Algumas cartas eram sequenciadas, sendo publicadas diversas vezes no
periódico, tais como
Carta de um caipira
e
Correspondência da Xiririca
, ambas assinadas
por Fidêncio José da Costa,
Cartas de Nho Vadô
, assinadas por Vadosinho Cambará e
Calta prus povo,
assinada por Nastacio Figuêra. Outras, porém, apareceram apenas uma ou
duas vezes no semanário. Neste trabalho, salientaremos os aspectos mais marcantes
destas cartas de um modo geral.
As cartas caipiras de
O Pirralho
eram encaminhadas para a própria redação do
periódico ou para um personagem fictício que vivia no campo. Na maior parte das vezes,
encontramos cartas que foram enviadas ao próprio semanário, iniciando-se com os dizeres:
“Seo Redatô do Pirraio” ou “amigo seo redatô”. Nos casos em que as cartas eram enviadas
a um amigo distante, não encontramos, ao menos em
O Pirralho
, casos de resposta. Este
fato é compreensível se pensarmos que o intuito destas cartas era refletir sobre a realidade
5 Em virtude da grande utilização de pseudônimos em
O Pirralho
, não é possível afirmar o verdadeiro autor do macarronismo
alemão. Paula Janovitch (2000, p. 185) acredita que pela proximidade com o macarronismo italiano, é provável que se tratasse
do próprio Oswald de Andrade ou de Alexandre Marcondes Machado.
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