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HUMOR E CRÍTICA NAS NARRATIVAS EPISTOLARES DE
O PIRRALHO
Beatriz RODRIGUES
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Por meio de diferentes linguagens,
O Pirralho
publicou diversas seções de narrativas
epistolares. As correspondências estiveram presentes durante a maior parte de existência
do periódico, entre os anos de 1911 e 1917 e foram escritas em dialeto caipira, em
macarrônico italiano e alemão. Numa ortografia quase fonética, os cronistas da cidade
buscaram códigos alternativos que expressassem os acontecimentos do momento e que
refletissem diretamente sobre a nova forma de vida da cidade de São Paulo. Com alto teor
cômico e sarcástico, estes textos expressavam a integração do caipira e do imigrante na
metrópole. Deste modo, propõe-se a análise das seções de correspondências de
O Pirralho
,
destacando-se as que foram escritas em dialeto caipira.
O Pirralho,
periódico fundado em 1911 por Oswald de Andrade, possuía não somente
um caráter humorístico como literário, social e até político, como afirma Brito Broca (2004, p.
311). Por meio de uma linguagem informal, ágil e pautada no humor, colocava em destaque o
cotidiano da cidade de São Paulo. Circulando até o ano de 1917, procurou manter, em termos
políticos e estéticos, um comportamento arrojado, o que na prática significou um embate
contínuo, sobretudo entre figuras proeminentes do cenário político brasileiro. Ao percorrer as
páginas irreverentes de
O Pirralho
, encontramos críticas artísticas e literárias, notas culturais,
comentários políticos e esportivos, além de muitas caricaturas e fotografias. As seções de
correspondências epistolares, que captavam as várias vozes presentes na metrópole em
formação, eram não somente uma marca distintiva do semanário, mas também uma das
melhores expressões e representações da
belle époque
paulistana. Para muitos autores,
O
Pirralho
já antecipava muito do que seria proposto em termos ideológicos, estéticos e culturais
pelo movimento modernista (CRESPO, 1990, p. 29).
Calcado no humor, na ironia e na paródia,
O Pirralho
afastava-se do caráter sisudo
e comedido de grande parte da imprensa da época. Poderíamos dizer que trafegou na
contramão dos parâmetros estabelecidos pela norma letrada, na medida em que se utilizou
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Mestranda - Programa de Pós-Graduação em História – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca – UNESP –
Univ. Estadual Paulista, Campus de Franca -
Av. Eufrásia Monteiro Petráglia, 900, CEP.14409-160 - Franca, São Paulo –
Brasil. Bolsista CAPES
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