Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 31

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de uma linguagem concisa, híbrida e irreverente.
2
O próprio periódico assumia o caráter
despojado e ironizava com os excessivos rebuscamentos e formalismos, como demonstra
um de seus cronistas: “O Pirralho gosta muito de troça, de pagodeira. Apezar disso,
frequenta tambem bôa sociedade, mesmo não tendo ainda educação suficiente, nem
paciência p’ra’ essas coisas.” (O PIRRALHO..., 07 out. 1911, p. 07)
De modo geral, havia por parte das revistas da época, a tentativa de acompanhar o
movimento de expansão da imprensa, que sugeria que os periódicos tivessem uma escrita
mais dinâmica. Houve uma crescente aproximação de conteúdos mais leves, de narrativas
curtas, sintéticas, objetivas, contos-casos, textos-relâmpagos, caricaturas e textos
humorísticos.
No lugar de descrições áridas e os pesados artigos de fundo, entram
quadrinhas, historietas, diálogos curtos e a crônica mais afeita ao linguajar
do dia-a-dia e ao gosto do novo público que procura cativar. Personalidades
políticas, grupos sociais diversos, figuras típicas da cidade são alegorizados
em personagens com falas próprias. A gíria da moda, os estrangeirismos
franceses e depois yankees penetram a crônica, os falares dos imigrantes
são traduzidos em fala macarrônica e a presença das populações interioranas
mostra-se através dos dialetos caipiras. (
CRUZ, 2000, p. 111).
O ritmo das mudanças na cidade transformava a própria linguagem dos periódicos e
O Pirralho
, por sua vez, promoveu aquilo que Paula Janovitch (2006, p. 184) denominou de
“congestão de línguas”.
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Este aspecto se deve ao fato de ter trazido para dentro de suas
páginas a sonoridade das ruas, numa ortografia quase fonética. Formado pela escrita dos
imigrantes e dos caipiras recém-chegados, o linguajar das ruas era transplantado para o
semanário através das diversas seções de narrativas epistolares. Em formato de cartas,
publicavam-se textos em páginas inteiras, geralmente divididas em colunas, que teciam um
panorama muito crítico e bem humorado da vida paulistana.
Em linguagem macarrônica, misto de duas linguagens diferentes, que no caso
brasileiro foi formada pela mistura do português com uma língua estrangeira, surgia uma
profusão de correspondências.
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As correspondências macarrônicas de
O Pirralho
eram
compostas pelo português falado no Brasil, misturado com italiano ou alemão. Pautadas por
uma espécie de linguagem de transição, as correspondências misturavam diferentes
linguagens que sintetizavam o momento peculiar da imigração pela qual a cidade passava.
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É preciso salientar que apesar do despojamento de
O Pirralho
, o periódico contava com a colaboração de escritores bastante
renomados no período, tais como Olavo Bilac, Emílio de Menezes, Afonso Celso, José do Patrocínio Filho, dentre outros.
Olavo Bilac, por exemplo, “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, publicou diversas de suas poesias no periódico.
3 Ver: A força do macarrão, o poder misterioso da batata, o efeito líquido da cerveja e o que o milho tem a ver com isso!!! Uma
congestão de línguas promovida por
O Pirralho
. In: JANOVITCH, Paula. 2000, p. 184-199.
4 Sobre a linguagem macarrônica, ver: CAPELA, Carlos Eduardo. S. “Entrevôos macarrônicos” em
Travessia
(Revista de
Literatura), n. 39, jul-dez. 1999, Florianópolis, UFSC. JANOVITCH, Paula. Correspondências Macarrônicas. In:
Preso por
Trocadilho
. São Paulo: Alameda, 2006, p.
160-184. SALIBA, Elias Thomé. A macarrônea dos desenraizados: humoristas em
São Paulo. In: Raízes do Riso. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 154-215.
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