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O aspecto mais atacado, pelos seguidores do ruísmo, na biografia de Rui Barbosa
feita por Raimundo Magalhães Junior se trata, sem dúvida, do processo de desmitificação
construída pelo narrador desde o primeiro capítulo e que encontra seu ponto máximo em
dois capítulos. O primeiro seria o décimo quinto, intitulado “As ‘Águias de Haia’ e o Falso
Livro de Willian T. Stead”. Nesta seção da obra, o narrador logo no título ironiza a alcunha
que seria atribuída a Rui ao apontar que haveria não
a
Águia, no singular, mas sim
as
Águias de Haia.
Ao longo de todo este capítulo, o narrador procura provar que o mito acerca da
grande atuação de Rui na Segunda Conferência de Paz de Haia foi laboriosamente
construído pelo próprio biografado com o subsídio financeiro do governo brasileiro e a
contratação de um repórter inglês de segunda categoria chamado Willian T. Stead e que era
conhecido por sua perícia em fraudar reportagens e elaborar notícias sensacionalistas.
Acerca da participação de Willian T. Stead na mitificação de Rui o narrador afirma
que “Ele foi um beneficiário, pago pelo Itamarati, da campanha de propaganda que Rui
Barbosa reclamara e à qual o Barão do Rio Branco prontamente acedera.” (MAGALHÃES
JUNIOR, 1979, p. 312).
No Brasil, segundo o narrador, o grande responsável pela glorificação de Rui e pela
intensificação do processo de construção do mito Rui Barbosa foi um
livro
, intitulado
O Brasil
em Haia
e cuja autoria foi atribuída a Willian T. Stead. Na verdade, segundo o narrador, não
poderia haver maior engano, já que o falso livro seria uma tradução do inglês para o
português das reportagens de Willian T. Stead sobre a atuação de Rui em Haia feita por um
jovem brasileiro ambicioso chamado Artur Bomilcar com a participação de Rui, que traduz
os seus discursos do francês para o português.
Assim nasce, segundo o narrador, o mito da Águia de Haia, que na verdade seriam
as
Águias, já que para que o mito fosse gerado houve a participação de pelo menos quatro
indivíduos: O Barão do Rio Branco, o jornalista inglês Willian T. Stead, o jovem Artur
Bomilcar e, é claro, o próprio Rui.
Para finalizar, um segundo mito acerca de Rui, que a biografia procura desconstruir,
é justamente aquele que talvez seja o mais conhecido: o seu grande talento enquanto
orador. Acerca deste assunto, o narrador é irônico, sarcástico e, em muitas passagens,
critica acidamente o desempenho do biografado enquanto orador.
A primeira coisa que Raimundo Magalhães aponta no último capítulo de sua obra é
que Rui seria um grande orador caso não fosse tão prolixo. E é exatamente esta
característica que o narrador vai esmiuçar utilizando o testemunho de intelectuais,
jornalistas, parlamentares, advogados, contemporâneos de Rui que eram seus amigos e até
mesmo inimigos, mas que tinham a mesma opinião: a incapacidade de Rui em se