Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 198

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Junior construíra de grande biógrafo, minucioso, detalhista, amante da pesquisa e com um
estilo narrativo leve e envolvente.
Trata-se, sem dúvida, de uma obra que antes mesmo de publicá-la, o autor já tinha
ideia de como se daria a sua recepção, como afirma no prefácio à terceira edição datada de
1979:
Tentativa de revisão histórica e política, o objetivo deste livro é o de
contribuir para que sejam traçados, futuramente, retratos mais autênticos de
Rui. Para os seus idólatras, a tarefa parecerá herética e
iconoclasta
. E
incorrerá, sem dúvida, na veemente reprovação dos que professam o culto
ao ruísmo. (MAGALHÃES, 1979, p. 7, grifo nosso).
O livro provoca na época, o que se estende por décadas, uma tremenda polêmica na
qual se envolveram simpatizantes, seguidores do chamado ruísmo, em oposição aos que,
de alguma forma, concordam, compartilham o pensamento de Magalhães como um todo ou
parte dele. O autor busca, em seu trabalho, demonstrar que o culto ao mito intelectual liberal
de Rui encobria um homem de práticas políticas ultraconservadoras.
Américo Jacobina Lacombe escreve, em 1965, um texto intitulado
A propósito de
Rui, o homem e o mito,
no qual critica veementemente a obra de Magalhães. Lacombe faz
questão de deixar bem claro que não é um seguidor do culto ao ruísmo, salientando que, em
algumas questões, se posiciona em lado oposto a Rui.
Lacombe critica a postura do biógrafo, a ponto de afirmar que “O método empregado
pelo Sr. Magalhães para deformar sua vítima inclui a fraude.” (LACOMBE, 1965, p. 3). Além
disso, afirma ser a obra fruto de um “ímpeto historicida”. As críticas ácidas se estendem por
todo o texto. Este é apenas um, dos muitos textos publicados que se preocuparam em
combater o livro de Raimundo Magalhães Junior.
De acordo com Silva (2012), a única exceção às biografias que tinham por objetivo
glorificar a imagem de Rui, se trata de
Rui, o homem e o mito.
Ressaltando que, por ocasião
de sua publicação, o livro foi desprestigiado pelos intelectuais da época, causando enorme
polêmica (SILVA, 2012).
Em
Rui, o homem e o mito
, podemos analisar não apenas a forma como Magalhães
o retrata, mas também como – ao redor do jurisconsulto – a época em que vivia é
apresentada, permitindo-nos questionar as relações políticas, sociais, a mitificação e
panteonização de Rui e como isso é tratado no biografismo de Magalhães.
Rui, o homem e o mito
possui cerca de 500 páginas, com 23 capítulos que variam
entre 20 e 30 páginas cada um, com algumas exceções, nas quais a média do número de
páginas é cerca de 10. Os capítulos são temáticos, a título de exemplo, o primeiro é sobre
Rui e suas relações com a Igreja Católica, o terceiro sobre o Encilhamento, o sexto é sobre
a atividade jornalística de Rui, o décimo terceiro trata o caso da Vacina Obrigatória, o
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