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UM PLANO CIVILIZACIONAL PARA OS INDÍGENAS NA FORMAÇÃO DO
ESTADO NACIONAL BRASILEIRO
Juscelino PEREIRA NETO
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Este texto pretende apresentar uma análise de um Programa de autoria do clérigo e
publicista Januário da Cunha Barbosa (1780-1846) denominado “
Qual seria hoje o melhor
sistema de colonizar os índios entranhados em nossos sertões
” sorteado em sessão de 24
de agosto de 1839 no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e publicado na Revista da
mesma instituição. A catequese e a educação jesuítica aparecem no discurso de Barbosa
como instrumento mais eficaz na tarefa de educar/civilizar as populações indígenas e inseri-
las no Estado Nacional. O objetivo deste texto é, portanto, analisar o referido programa, bem
como discutir as possibilidades e os limites dessa proposta no horizonte das incipientes
políticas públicas brasileiras no século XIX.
Januário da Cunha Barbosa, nasceu no Rio de Janeiro, ano de 1780, homem de
condição modesta, órfão aos nove anos, teve sua educação primária e os estudos
preparatórios que precederam sua ordenação como padre, em 1803, providas por tio
paterno. Dedicou-se, primordialmente, ao púlpito e ao magistério, como professor de Moral e
Ética. Ingressou na vida pública a partir da Independência, em 1822. De espírito combativo,
de ideias liberais, fundou em companhia de Joaquim Gonçalves Ledo (1781-1847) o
Reverbero Constitucional Fluminense
(1821-1822), periódico influente, porta-voz da elite
brasiliense, composto por padres, advogados, militares e publicistas. Exerceu ainda cargos
na burocracia imperial, como diretor do
Diário do Governo
, da Biblioteca Nacional e da
Tipografia Nacional.
Orador eloquente, Barbosa participou de episódios de maior destaque, como por
exemplo, da fundação dos Conselhos dos Procuradores, articulado junto ao grupo maçom
local. Conhecido pelas suas ideias políticas, pelo tom sarcástico de polemista, foi acusado
de republicanismo após a Independência e, em seguida, preso e deportado para a França,
onde permaneceu por pouco tempo, retornando em 1823.
O seu discurso permitiria entrever a visão a respeito do elemento indígena,
elaborada pelos letrados que orbitavam a esfera do IHGB, entre os anos em que o cônego
estivera à frente da instituição como seu Primeiro Secretário, ventiladas na Revista do
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Mestrando – Programa de Pós-Graduação em História – Faculdade de Ciências e Letras de Assis – Unesp – Univ. Estadual
Paulista, Campus de Assis – Av. Dom Antonio, 2100, CEP: 19806-900, Assis, São Paulo – Brasil. Bolsista CAPES. E-mail: