Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 202

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Não cabe aqui julgarmos o método historiográfico de Raimundo Magalhães no
sentido de dizer se ele errou ou acertou. Até porque, caso o julgássemos, estaríamos sendo
anacrônicos. O intuito deste trabalho é antes o de refletir sobre a forma como o biógrafo
escreve a história de um período por intermédio da narrativa da vida de um eleito. E o tipo
de documento extremamente valorizado por Magalhães são os de origem oficial, por
acreditar no elevado teor de verdade neles contidos e por serem relativamente neutros, o
que permitiria uma interpretação muito mais confiável.
Raimundo Magalhães Junior não faz um retrato em papel e letras de Rui com base
apenas em fatos externos, acontecimentos, tomadas de posição do biografado e de pessoas
que o cercavam. Mas usa os episódios narrados com o intuito de pintar, também, aspectos
da personalidade de Rui Barbosa.
Anteriormente, citamos que um dos fios condutores de toda a biografia é a constante
referência à incoerência de Rui que marcaria toda a sua trajetória enquanto advogado,
parlamentar, diplomata, escritor, funcionário público. Isto é, um dado relativo à
personalidade de Rui percorre toda a obra, evidenciando a importância que o narrador
atribui aos aspectos psicológicos do biografado.
Torna-se nítida a importância, para Magalhães, da dimensão psicológica na
construção de sua personagem principal quando este afirma que:
O verdadeiro retrato de Rui ficará incompleto sem o conhecimento dessas
matrizes de sua psicologia. Onde ele perdia, onde sua personalidade não
aparecia aureolada, onde transpareciam suas fraquezas, desconhecia a
verdade, refugava as provas, estranhava os documentos. (MAGALHÃES
JUNIOR, 1979, p. 163).
Fica evidente, neste trecho, o aspecto híbrido da biografia, ou seja, o misto de
narrativa e escrita da história. Não apenas literatura ou somente história, mas ambas, juntas.
E o mérito de Raimundo Magalhães Junior é conseguir conciliar, balancear esse hibridismo,
não permitindo que nem a narrativa nem o método historiográfico tenham primazia, mas
coexistam, completando-se continuamente.
O biógrafo consegue extrair o melhor, tanto da narrativa quanto do método histórico.
O resultado é a construção de uma biografia na qual não apenas os eventos são
interpretados por meio das fontes, encadeados através de um enredo; também se
contempla uma busca a fim de tentar desvendar os mistérios da personalidade de Rui. E o
ciclo volta a se repetir, pois é por meio do método histórico que as evidências documentadas
na correspondência ativa e passiva, nas anotações pessoais do biografado são
interpretadas para, em seguida, serem narradas com o objetivo de construir uma espécie de
mapa da alma da personagem eleita.
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