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pronunciar de forma clara, objetiva, profunda, mas perfeitamente compreensível, e o
principal, que não fosse maçante.
Assim expressa, sarcasticamente, o narrador: “No Parlamento do Império, se Rui
nem sempre vencia os seus opositores pela força dos argumentos, vencia-os muitas vezes
pelo cansaço, em estiradas orações, das quais pouquíssima coisa de útil era possível
extrair.” E mais, “Poucos compreendiam, muitos assistiam, todos aplaudiam” (MAGALHÃES
JUNIOR, 1979, p. 482; 496).
As últimas páginas da biografia são destinadas a evidenciar que Rui chegou à
velhice e com ela, o ocaso de suas ideias. Ao tomar o depoimento de diversos escritores,
intelectuais, como é o caso de Cândido Mota Filho, que afirma “Por certo, o estilo de Rui, a
sua maneira de escrever, o seu processo de composição, o seu gosto pelas citações, já não
servem para os nossos dias” (MAGALHÃES JUNIOR, 1979, p. 498).
Segundo o narrador, a morte de Rui foi um acontecimento que não despertou
simpatias, foi na verdade tratada com indiferença e alheamento por parte de muitos. Houve,
é claro, a pompa oficial, todavia não houve real sentimento público. E como nota final, o
narrador afirma incisivo que “Rui vivera demais” e conclui com a afirmação de que o
personagem principal da biografia falecera decaindo na opinião pública pela gritante
incoerência que marcara toda a sua trajetória política.
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