Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 207

205 
grêmio por meio de programas histórico; memórias históricas; crônicas de viagem; cartas;
críticas de obras de cunho historiográfico; pesquisa de documentos (manuscritos diversos
que traziam informações sobre cultura indígena) e material composto de dicionários
linguísticos e textos de natureza diversa.
Cabe ressaltar que este estudo concentra a análise no referido programa, no qual
Barbosa advogaria a ação dos jesuítas junto às populações indígenas como instrumento
mais eficaz de civilização. No programa histórico, os jesuítas despontavam em uma posição
de destaque no trato com os indígenas reconhecendo-lhes feitos notáveis em favor da pátria
e que deveriam ser repetidos.
Ao longo das 16 laudas do
programa
, o religioso Januário da Cunha Barbosa
argumenta a favor da catequese jesuítica para os indígenas, asseverando que os membros
daquela ordem regular se ancoravam num projeto civilizatório no Brasil Colonial, reunindo
exemplos tidos por Barbosa como casos da bem sucedida empreitada educacional
empreendida pelos membros da Companhia de Jesus. Por meio do programa também é
possível observar de que modo a temática indígena surge como objeto da preocupação de
uma gama variada de letrados na esfera da agremiação, sobretudo pelo desejo de criação
de uma nação que fosse capaz de definir e abranger sua população, configurando-se como
um país civilizado nos trópicos.
A opção de construir uma memória nacional resultava no ato de elaboração de uma
narrativa comum aos seus habitantes, tendo como fio condutor a ideia de civilização e a
continuidade dos progressos atingidos na Europa. No entender dos agremiados do IHGB, o
Estado que brotou de setembro de 1822 se constituía legitimamente em virtude do fato de
ser herdeiro do Império português (WEHLING, 1999).
Desse modo, a Independência foi entendida antes como um processo natural, de
sucessão dinástica, e não uma fratura traumática, tal como futuras ex-colônias espanholas
que se agitavam no continente sul-americano antes das respectivas independências
(TORRES, 1968).
A Europa era vislumbrada como detentora de um modelo ideal de superioridade e de
civilização. A elite brasileira julgava ser a herdeira – via Portugal – e portadora da
civilização, filha da ilustração. Com efeito, além de possuir ideais de liberdade e de
propriedade, teria que cumprir uma missão civilizadora iniciada pelos portugueses com a
colonização dos territórios ocupados. A essa tarefa, em termos de produção de discursos
históricos, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro se dedicou integralmente ao longo do
século XIX.
Antes de adentrar na análise do documento, serão apontadas algumas observações
quanto ao caráter do Instituto Histórico, o papel dos indígenas no Estado Nacional brasileiro
e a repercussão deste escrito dentro do grêmio.
1...,197,198,199,200,201,202,203,204,205,206 208,209,210,211,212,213,214,215,216,217,...328
Powered by FlippingBook