Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 211

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O sistema de ensino de Januário da Cunha Barbosa
Em “Qual seria hoje o melhor sistema de colonizar os Índios entranhados em nossos
sertões; se conviria seguir o sistema dos Jesuítas, fundado principalmente na propagação
do Cristianismo, ou se outro [na] qual se esperam melhores resultados do que os atuais”
(1839b, p. 1), em linhas gerais, Barbosa discutiu a possibilidade de se educar populações
indígenas para que adotassem um comportamento civilizado, tendo como modelo de
instrução o sistema de ensino sistematizado pelos jesuítas. Januário da Cunha Barbosa
tinha como ponto de partida o entendimento de que a ordem jesuítica desempenhara um
papel decisivo na formação da cultura brasileira no período colonial.
A exposição se inicia com o anúncio da tarefa à qual lhe fora encarregado: “O ponto,
de que hoje nos ocupamos, é de certo interessante à prosperidade do Brasil, e assim
também de outros Estados, em cujas matas vagam milhares de Nações indígenas privadas
dos cômodos da civilização” (BARBOSA, 1839b, p. 3).
Retoricamente, Januário da Cunha Barbosa admitia desde o início a impossibilidade
de se apresentar uma solução definitiva para a questão em pauta: “O escritor que se
apresentasse um plano bem concertado [...] mereceria uma estátua, ainda com mais justiça
do que esses afortunados que descobriram tão vastos países. Eu não pretendo a gloria de
tocar a meta em tão difícil carreira” (BARBOSA, 1839b, p. 3).
A dificuldade, segundo Barbosa, tinha em sua raiz condicionante a situação em que
os indígenas se encontravam “sem domicilio certo, sem pátria, sem leis, sem vestígios de
qualquer civilização” (BARBOSA, 1839b, p. 5). Em meio a este cenário desolador, a
repentina passagem de um estado de natureza para o estado civilizado, de acordo com
Barbosa, era tarefa irrealizável, visto que as relações nas quais se assentavam ambas as
populações eram de diferentes estágios na evolução. Que cumpriria, pois, fazer em tal
caso?
A solução ofertada passava, entre outras etapas, pela introdução dos métodos
jesuíticos de ensino ao conjunto das populações indígenas espalhadas em território
nacional. De acordo com o cônego “a catequese é o meio mais eficaz, e talvez o único, de
trazer os Índios da barbaridade de suas brenhas aos cômodos da sociabilidade [...] apoia-se
esta minha opinião em muitos factos na História do Brasil; e posto que neles figurem
particularmente os jesuítas” (BARBOSA, 1839b, p. 3-4).
Para asseverar seu diagnóstico, Barbosa compilou de várias obras e testemunhos
que atestavam a eficácia da proposta e enunciavam a viabilidade da catequese na tarefa de
converter e civilizar os índios. As obras citadas pelo cônego, em sua maioria, constituem-se
de documentos produzidos no período colonial nos primeiros tempos da colonização. A lista
inclui obras de padre Manuel da Nóbrega (1517-1570) e Antônio Vieira (1608-1697), para
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