Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 219

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condenados por diversos delitos, todos eles, nutrindo grandes esperanças em relação a
essa colônia experimental, no entanto, sofreram muito durante e depois da viagem.
A viagem não foi fácil para esses imigrantes, pois crianças, mulheres grávidas e os
próprios adultos passavam mal, uma vez que não se alimentavam bem durante o percurso e
houve casos de morte por causa da falta de alimentos.
Para estes italianos, trocar o seu país por outro era uma tentativa de melhoria de
vida, eles buscavam uma vida mais digna, num país que possibilitasse melhores condições
de moradia e trabalho, para que pudessem atingir tais objetivos. Entretanto, a idealização
desses italianos acabou se mostrando bastante diferente da realidade com a qual se
depararam aqui, pois os políticos brasileiros já tinham seus objetivos muito bem claros e
definidos em relação ao seu projeto de imigração, que tinha como intuito resolver um grande
problema: a falta de mão de obra após a abolição da escravatura no Brasil, em 1888. Os
governantes brasileiros esperavam que estes imigrantes suprissem essa falta de mão de
obra nas lavouras de café no Brasil e foi o que veio a ocorrer com muitos desses italianos,
até com o seu avô materno, o Sr. Eugênio Da Col, que veio ao Brasil com a sua família com
um contrato de colono, não era anarquista, não idealizava a colônia Cecília, mas também
objetivava construir no Brasil uma vida mais feliz e sofreu todas as consequências da
imigração italiana:
Ao chegar à fazenda, Eugênio Da Col deu-se conta, em seguida, de que
não existia ali aquela cuccagna, aquela fartura tão propalada. Tudo que ele
idealizara não passava de fantasia; as informações recebidas não
correspondiam à realidade: o que havia, isto sim, era trabalho árduo e
estafante, começando antes do nascer do sol; homens e crianças
cumpriram o mesmo horário de serviço. Colhiam café debaixo de sol
ardente, os três filhos mais velhos os acompanhando, sob a vigilância de
um capataz odioso. Vivendo em condições precárias, ganhavam o suficiente
para não morrer de fome. A escravidão já for abolida no Brasil, havia
tempos, mas nas fazendas de café seu ranço perdurara. (GATTAI, 2009, p.
189-190).
A escritora retratou, em sua primeira publicação, um panorama da imigração italiana
no Brasil, desde a saída desses italianos de seu país até a sua chegada, neste lugar até
então desconhecido para eles. No caso de seu avô materno, ele e a sua família, a princípio,
se tornaram, segundo a sua perspectiva, os novos “escravos” que vieram substituir o
trabalho africano, que teve o seu término no final século XIX, com a abolição da escravatura,
abolição por sinal, extremamente tardia.
Entre os assuntos abordados estava a política, mais especificamente o anarquismo,
que também foi discutido em sua primeira publicação porque grande parte de seus
antepassados eram adeptos deste sistema de ideias. Tanto o seu pai Ernesto como seu avô
Arnaldo Gattai acreditavam que o anarquismo era a única maneira de se construir uma
sociedade justa, igualitária e livre. Dona Angelina, sua mãe, costumava guardar recortes de
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