Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 221

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Muitos outros decretos e leis foram criados neste período, como o decreto de
censura, de 23 de dezembro de 1889, que proibia reuniões políticas que ameaçassem a
República, além do decreto-lei n° 1641, a Lei Adolfo Gordo, que regularizou a expulsão de
estrangeiros do país e o decreto n° 4.743, que ficou conhecido como a “lei da imprensa”,
sendo também criado posteriormente o Departamento Estadual de Ordem Política e Social,
em São Paulo, que surgiu com o único objetivo de vigiar e punir os sujeitos “rotulados” como
“criminosos políticos” (CARNEIRO, 2002, p. 4).
Contemplando outros assuntos, Zélia também retratou, em suas páginas, a
adaptação desses italianos no Brasil, narrou alguns eventos cotidianos, alguns costumes
deste povo, a religiosidade, enfatizando as suas particularidades, os espaços de diversão, e
as peculiaridades de uma cidade que ainda estava nascendo, e que viria a ser a famosa
cidade de São Paulo.
Em suas páginas, recorda-se da Alameda Santos, número 8, rua em que passou a
sua infância e grande parte de sua adolescência, próximo à Avenida Paulista, que segundo
Zélia, era o local onde residiam os homens bem abastados daquele período. Comenta,
também, que a casa onde morava naquele tempo não possuía nenhuma chave, no entanto,
ninguém a invadia para roubar qualquer objeto que fosse. Este tema que a escritora
levantou em seu livro, permite pensar como era a sociedade em seu tempo, uma sociedade
que ainda estava passando por um processo de modernização, talvez não ocorresse tantos
roubos, como ocorre nos dias de hoje, mas, ainda assim, era uma sociedade que também
tinha os problemas próprios de seu tempo, sobre os quais a escritora também explanou em
suas páginas seguintes.
Entre os bem abastados e os desprovidos de recursos financeiros, Zélia narra
também algumas peculiaridades de São Paulo, no início do século XX, cidade que, aos
poucos, vai se modernizando com a instalação da iluminação pública, o surgimento dos
primeiros automóveis, os primeiros arranha-céus sendo construídos. E é dentro deste
“cenário” que ela se recorda de algumas lembranças de sua infância, como alguns passeios
que fazia com seus pais e irmãs, como no circo Piolin
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e dos Irmãos Queirolo, que muito
apreciavam em virtude das brincadeiras de seus palhaços e dos diversos animais que
faziam parte da animação.
O circo, neste período, era um passeio que agradava muitas crianças e adultos, as
arquibancadas ficavam sempre lotadas porque o público adorava assistir às atrações
engraçadas e divertidas como as mímicas dos palhaços, o malabarismo, o contorcionismo, o
ciclismo, entre outras programações. Além desse divertimento, outro passeio de que as
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Abelardo Pinto Piolin foi um importante palhaço brasileiro que atuou dentro dos circos no Brasil da década de 30 até a década
de 60, o seu talento foi reconhecido pelos intelectuais modernistas em razão de suas atuações terem um caráter também
político.
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