Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 231

229 
linguagem das ciências sociais herdadas decimonómicas.”
5
, (GÓMEZ; GROSFOGUEL,
2007, p. 17), uma nova linguagem que relacione as complexidades pertencentes e
pertinentes ao indígena sul-mato-grossense. Há a necessidade em descolonizar não
somente os saberes acadêmicos, mas, concomitante a isso, os saberes promulgados pela
massa, pela imprensa, consequentemente pelas escolas e mesmo pelos discursos
provenientes dos indígenas, atrevemos-nos a incluir o próprio discurso presente nas
canções dos Brô MC's.
No livro
Uma literatura nos Trópicos,
de Silviano Santiago, há presente a relação
entre a colonização latina e o pensamento atribuído aos nativos do Novo Mundo (termo
utilizado por Santiago), onde se encontra perdurando discursos nos vários eixos da
sociedade. A melhor forma de colonizar, de tomar para si algo e, nesse caso, um lugar, que
não é seu e exatamente apagar as suas memórias, aqui representadas por suas culturas,
por suas línguas, sendo assim, uma delas é que a América possa:
Transformar-se em cópia, simulacro que se quer mais e mais semelhante ao
original, quando sua originalidade não se encontraria na cópia do modelo
original, mas em sua origem, apagada completamente pelos
conquistadores. Pelo extermínio constante dos traços originais, pelo
esquecimento da origem, o fenômeno de duplicação se estabelece como a
única regra válida da civilização. (SANTIAGO, 2000, p. 14).
A intenção era, e é, de forma pedagogicamente passada através da história (como
disciplina), que os nativos e indígenas, aqui donos da terra, se tornassem e se
transformassem no modelo hegemônico de civilização, perdendo, assim, suas
características socioculturais. Essa noção é, infelizmente, perceptível ainda, tomando como
aporte e prova os discursos acadêmicos e hegemônicos da própria população. A sociedade,
quando se depara com os noticiários sobre conflitos entre indígenas e fazendeiros,
questiona o por quê da população indígena não concluir a sua inserção no sistema global
moderno vigente. Não que isso seja errado, pelo contrário, é sabido que muitos indígenas se
constroem dentro dos parâmetros sociais modernos, cursam uma graduação, são
funcionários públicos, mas em aceitar as próprias diferenças e peculiaridades latinas. Como
fundamentação disso, a teórica Vânia Guerra, no livro
O indígena de Mato Grosso do Sul,
afirma que a:
[...] suposta incapacidade e ingenuidade é repassada às gerações desde os
primeiros anos de escola, pois quando é ensinado que os índios ficaram
felizes e impressionados com a chegada dos descobridores, a própria
escola está colaborando para a representação de que o índio é bobo, ao
mesmo tempo em que é bom deixar o outro entrar. (GUERRA, 2010, p. 40).
5
Original “sin depender del viejo lenguaje heredado de las ciencias sociales decimonómicas”. (Tradução nossa)
1...,221,222,223,224,225,226,227,228,229,230 232,233,234,235,236,237,238,239,240,241,...328
Powered by FlippingBook