Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 237

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guerras, conflitos
chegou a hora de lutar pelo direito dos índios
ainda sou perseguido
BRÔ MC’s.
CD Independente.
Para o indígena, a terra representa uma memória aquém de uma obediência
epistêmica, a terra, acaba por se configurar numa forma de o indígena manter a sua cultura
e sua memória na história dos indígenas que estão por vir ainda.
A manifestação artística musical do grupo perpassa por abordagens que necessitam
de uma teorização pensada de onde vieram. Trata-se de uma produção arraigada pela
memória indígena, cravada nas terras latinas, no imaginário do nativo, do espectro colonial
que ronda as epistemologias sociais, históricas e culturais.
Para que pudéssemos dialogar com os arquivos desses jovens indígenas e com a
memória de seu povo, foi, e ainda é, preciso interligá-los aos discursos supracitados. Além
disso, foi necessário enxergar e exumar espectros coloniais, buscando respostas em
conceituações como a interculturalidade, os projetos globais pelas quais perpassa o
rap
do
grupo, incluindo-os ainda como jovens indígenas, subalternos, fronteiriços, inscritos numa
periferia, há séculos habitantes, às vezes não tão física quanto a própria intensidade do
vocábulo possa expressar, desse
loci
enunciativo ainda cru no discurso e na crítica
acadêmica.
Foi preciso que atravessássemos uma batalha com discursos hegemônicos, que
pudéssemos nos distanciar ao máximo dessa vertente supressora e, ao mesmo tempo,
cega, pois estamos dialogando com produções advindas dessa peculiar nação, e não
podemos manter um diálogo com teorias que não os veem de forma descolonial.
Antes de entrar pelos meandros descoloniais, precisamos, acima de tudo, nos
descolonizar. Há tantos anos somos bombardeados por regras e saberes hegemônicos, e
para que pudéssemos adentrar na perspectiva descolonial e conseguir relacionar as
inscrições culturais e enunciativas do grupo neste trabalho, foi preciso também que nos
descoloniazássemos
.
Todos os dias somos induzidos a absorver o padrão, aquela ideia de que o índio é
quem deve sair de sua terra. Todos os dias somos treinados a predispor o que querem de
nós; entretanto, esta discussão desliza caminhos epistemológicos outros. Além disso, é
preciso procurar entendê-los em sua essência fronteiriça, transcultural, intercultural,
memorialística, também a incompletude e o quebra-cabeça que constitue nossas memórias,
seja dos indígenas, seja sua, sejam as nossas, necessitam de entendimento.
Os jovens do Brô MC's procuram, de certa maneira, expor em suas canções esses
espectros do esquecimento étnico e as privações subalternas na qual eles e seu povo
vivenciam e procuram sobreviver há muitos séculos e, ainda, criticar alguns aspectos dos
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