Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 246

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como as habitualmente praticadas nas escolas, de Educação Infantil e dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental, quando no dia 19 de abril (Dia do Índio) fantasiam e pintam os rostos
das crianças numa ação que folcloriza e cria estereótipos sobre os povos indígenas.
Desta forma, entendemos que não é papel do historiador conformar-se com o
discurso oficial e sim analisar, questionar, problematizar, propor, revelar interesses para que
os sujeitos possam se posicionar, redefinir a sua compreensão sobre o mundo e atuar
diante da história, do contrário, a pesquisa histórica seria inútil e sem sentido.
Sendo assim, embora muitos historiadores se coloquem em oposição às questões
indígenas e à história crítica que parte do referencial teórico marxista, compreendemos
alguns pontos fundamentais que podem colaborar com os avanços necessários em prol de
uma luta pelos direitos dos povos indígenas. A luta dos indígenas contra a dominação dos
brancos e colonizadores e a destruição de seus valores e costumes têm relação direta com
a ideia de luta de classes desenvolvida por Marx. Assim como a questão da dominação não
apenas econômica, mas também cultural. Dessa forma, a luta indígena é também uma luta
contra a hegemonia de um discurso e projeto de poder.
Apesar do contexto e de algumas distorções próprias do momento histórico,
podemos citar José Carlos Mariátegui, o fundador do comunismo peruano e um dos mais
influentes marxistas da América Latino. Este autor produziu inúmeros textos analisando e
relacionando as questões indígenas latino-americanas com as teorias revolucionárias do
marxismo. Em seu texto, escrito em 1929,
“El problema de las razas em América Latina”
, ele
afirma que:
Só o movimento revolucionário e classista das massas indígenas
exploradas poderá lhes permitir dar um sentido real à libertação de
sua raça da exploração favorecendo as possibilidades de sua
autodeterminação política. Na maioria dos casos, o problema
indígena identifica-se com o problema da terra. A ignorância, o atraso
e a miséria dos indígenas são apenas a consequência da sua
escravidão. (MARIÁTEGUI, 1999, p. 110)
Outra importante questão é a crítica ao consumismo, próprio do capitalismo. Logo na
chegada dos portugueses ao Brasil, o encontro entre as duas culturas e sua estranheza
mostrou-se bastante claro. Para os portugueses, o índio era preguiçoso porque poderia
passar o dia pescando o maior número de peixes possíveis para acumular (dentro da lógica
já em curso de acumulação primitiva), ao passo que, para os indígenas, era difícil
compreender para que pescar tanto se ele só precisava de um peixe para se alimentar.
A lógica da crítica ao consumo, fundamento básico do capitalismo formulado na
teoria sobre a mercadoria em Marx, pode ser vista na crítica que os indígenas fazem sobre o
consumo exagerado e a supervalorização das mercadorias em detrimento dos valores e
tradições.
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