Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 242

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tornou-se explícita a necessidade de se repensar e de se problematizar aspectos
fundamentais como currículo, conceitos e metodologia.
Evidentemente, tais questões geraram uma série de controvérsias e polêmicas.
Foram inúmeras alegações e contraposições, no entanto, o fato é que essas leis são fruto
de um longo debate político-educacional e da atuação constante e persistente de grupos e
acadêmicos que estão conseguindo mudar práticas estabelecidas há muito tempo. Estas
leis representam um esforço de reparação ao tratamento de exclusão, inclusive do sistema
educacional, que historicamente atenuava a valorosa contribuição dessas etnias.
Um importante material didático usado na década de 1940 pode ilustrar de forma
indelével como esse processo ocorre nas salas de aula. O livro de História do Brasil, do
autor Orestes Rosólia, em consonância com o Decreto-lei da Educação de abril de 1942,
traz um capítulo sobre a formação étnica do país. Esse capítulo revela a importância dos
debates atuais e possibilita perceber as consequências daquele modelo educacional de
Ensino de História.
No capítulo em questão, o autor apresenta uma descrição dos povos
brancos,
em
resumo, ocidentais, cristãos e civilizados. Depois dos povos indígenas, que entre outras
características possuem um ânimo supersticioso, acreditavam no
pagé
“[...] espécie de
feiticeiro detestável que era respeitado e temido pelo seu poder de malefícios e de prever o
futuro [...]” (ROSÓLIA, 1948, p. 93)
.
O autor ainda afirma que os povos indígenas não
possuíam uma religião, pois “[...] não construíram templos, não possuíam sacerdotes e nem
chegaram a ter uma noção abstrata de desuses aos quais tributassem culto”
(ROSÓLIA,
1948, p. 92). Além disso, Rosólia ainda classifica os indígenas de insubmissos e
defeituosos: “[...] rendia menos e nunca chegou a ser um bom agricultor” (ROSÓLIA, 1948,
p. 95).
Quanto aos negros, a análise parte da ideia de que foram escravizados pela sua fácil
submissão, além disso, Rosólia (1948, p. 95) afirma que:
[...] em geral o escravo negro era feliz no seu trabalho e na sua
submissão. Os grandes engenhos, verdadeiros povoados, contendo
centenas de escravos, ofereciam-lhes constantes atrativos com
festas, cerimônias religiosas e sociais e com isto, entretinham o
constante interesse do negro.
No último item do capítulo, o autor apresenta dois gráficos de comparação entre a
população do século XVIII e outra da década de 1940. Segundo as estimativas apresentadas,
os índios compunham 13,5% da população e depois apenas 2%. A mesma lógica da
mestiçagem e do embranquecimento da população se aplica aos negros que totalizavam 60%
no primeiro gráfico e passaram para apenas 8% da população no século XX.
1...,232,233,234,235,236,237,238,239,240,241 243,244,245,246,247,248,249,250,251,252,...328
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