Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 247

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Segundo Walter Benjamin (1994), em “Sobre o conceito da História”, a sociedade
moderna é a era do aceleramento das relações tecnológicas. É este o ritmo das sociedades
capitalistas que dificulta a assimilação e a transmissão das experiências. O tempo de
produção artesanal – própria das sociedades indígenas – dava ao homem a condição de
narrar e transmitir suas tradições e memórias. Já o tempo do capital, absorve nossas
capacidades reflexivas de ouvir e guardar: tudo é efêmero e provisório. No entanto, para a
cultura indígena, o tempo da produção do capital é nocivo para sua existência. A
preocupação com a preservação de seus costumes, língua e tradições é real e essa luta é
travada tanto no âmbito das políticas públicas e movimentos indígenas, como na luta pelo
ensino da história indígena.
A esse respeito, Ailton Krenac, um dos maiores ativistas indígenas do nosso país,
argumenta:
[...] quem tem identidade, quem tem alteridade, ele pode sofrer todas
as perseguições, pode passar por todos os becos circunstancias da
vida, mas ele não perde o rumo, por que ele sabe quem ele é, sabe
de onde veio e para onde vai. Ele não vai ficar se vendendo em troca
de bugiganga. E um grande trajeto da civilização moderna é que por
falta de alteridade as pessoas estão vivendo por conta das
bugigangas: é consumir o próximo celular, a próxima porcaria
eletrônica, o próximo carro, o próximo item tecnológico. As nossas
crianças estão sendo estimuladas o tempo inteiro a essa alienação de
ter objetos, de ter coisas. Então, a maioria de nós estamos forçados
pela ideia de ter coisas e não de ser. (KRENAC, 2012, p. 128).
Nesse sentido, defendemos o ensino de História numa perspectiva crítica, pluralista
e combativa, que contribua para a revisão dos currículos e métodos de ensino, construção
de novas práticas e políticas, com o intuito de combater a exclusão, a dominação e o
desaparecimento da cultura indígena.
O desafio das atuais políticas públicas e da educação é garantir a continuidade e a
ampliação das ações efetuadas até aqui e assegurar a existência e os direitos da educação
indígena. Desse modo, o ensino de História crítico é fundamental para auxiliar os não
indígenas a romperem com seus preconceitos e para que desenvolvam uma visão mais
plural e diversa da nossa sociedade.
Referências
BENJAMIN, W. Sobre o conceito da história. In: BENJAMIN, Walter.
Magia e técnica, arte e
política
: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7. ed. Trad. Sérgio Paulo Rouanet, São
Paulo: Brasiliense, 1994, p. 222-232. (Obras escolhidas; v. 1)
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