Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 243

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Articulando o ensino de história e as práticas sociais esse tipo de material auxilia na
compreensão de permanências de estigmas e estereótipos ainda presentes nos dias de hoje
e revela a necessidade de rompermos com essa visão equivocada da existência de uma
cultura civilizada e superior.
Interculturalidade e o Ensino de História Indígena
É nesse contexto que se impõe a necessidade do uso de conceitos como da
interculturalidade e da multiculturalidade nos processos de reflexão, investigação e ações
educativas.
Vale aqui definirmos tais conceitos, por vezes tomados como equivalentes. A
interculturalidade pressupõe relação e interação entre as culturas, as relações entre os
diferentes povos; ao passo que a multiculturalidade parte do entendimento de que nossa
sociedade é composta por diversas culturas, assim, pressupõe a existência e a convivência
desses costumes e hábitos distintos. Dessa forma, a multiculturalidade é uma característica
marcante em nossa sociedade: a miscigenação. No entanto, a interculturalidade vai além de
reconhecer nossa diversidade, pressupõe que possamos nos relacionar e interagir. A esse
respeito, Bianca Fraccalvieri argumenta que:
O acréscimo da preposição “inter” não é somente quantitativo, mas
qualitativo, e pode indicar o espaço compartilhado por uma ou mais
culturas e, [...] é também reciprocidade, diálogo cultural, encontro
com o outro, alteridade absoluta, cultura que traz a marca da
diferença. Na verdade, este encontro com o outro não é algo de novo
na Filosofia. Pelo contrário, faz parte da própria natureza, e sua
vocação a interculturalidade pode ser historicamente comprovada.
(FRACCALVIERI, 2008, p. 23).
Consideramos, então, que as três matrizes para a formação do povo brasileiro
possuem suas especificidades. A população indígena é a única nativa, ou seja, já estavam
aqui com sua cultura, costumes e organização. Os europeus são imigrantes que chegaram
por vontade própria, motivados pelo contexto do desenvolvimento do seu continente. E os
povos africanos, por sua vez, também imigrantes, porém forçados e obrigados a abandonar
seu continente. Os índios e africanos, portanto, apesar de suas diferenças, tiveram suas
tradições e cultura atacadas e foram obrigados a se adaptar de forma trágica e violenta a
novas realidades.
Isso justifica a necessidade de se reconhecer a multiculturalidade, não como um
sinal de inferioridade e defeito, mas como algo próprio da nossa riqueza e que contribui para
a interculturalidade, ou seja, com a interação e o diálogo de várias culturas. É importante
ressaltarmos que a diversidade é um fenômeno que acompanha a história da humanidade.
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