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Era comum o ensino de história enfatizar apenas a dominação, as derrotas e os
extermínios, vitimando ou infantilizando os povos indígenas, concedendo um
status
de
passividade e incapacidade, uma dominação sem resistência ou conflito
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.
No século XIX e início do século XX, enquanto a história crítica era forjada, o Brasil
legitimava a história oficial, baseada na concepção francesa, na qual o centro dos estudos
era a gênese da civilização, neste caso a europeia cristã ocidental. A história nomeada
como tradicional ganhou força e relevância, consolidando uma metodologia rígida e
determinando conteúdos. Logo, a biografia de ilustres, os fatos marcantes e as datas exatas
formavam a tríade que aprisionou o ensino de História por muito tempo.
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Nesse contexto foram construídas as explicações para o “Descobrimento de Brasil”,
para a “Independência do Brasil” ou ainda para “Proclamação da República”, assim como a
explicação para a escravidão e a dominação dos povos indígenas, cristalizando a visão de
povos inferiores e preguiçosos.
No entanto, as muitas crises da Educação, os surgimentos de novas gerações de
historiadores e movimentos sociais, entre outros fatores corroboraram para a reelaboração e
ressignificação dos nexos constitutivos da História. Os avanços conquistados, novos temas,
novas fontes e olhares vêm alterando esse cenário e mostrando que o ensino de História
pode cumprir outros papéis mais humanos e democráticos. Promover o respeito à
diversidade e o combate a todo e qualquer tipo de discriminação ou exclusão é função
sine
qua non
da escola e das políticas públicas.
Assim,
[...] a ausência da história indígena efetiva indígena na maioria dos
livros didáticos não corresponde à presença efetiva e ativa de
indígenas e afro-brasileiros na realidade histórica, presença essa que
vem deixando infinitos sinais e vestígios que são fontes históricas. É
possível e necessário, assim, utilizar o vasto universo de fontes
(entendidas também como recursos didáticos) sobre a história desses
povos para a elaboração de materiais e atividades didáticas para a
prática de ensino e pesquisa de História na educação básica.
(COELHO; MEIRA; LIMA, 2012, p. 08).
Nesse sentido, uma última reflexão, imperativa nesse debate, diz respeito à
formação crítica dos professores de História. Concordamos que, para que realmente se
efetive uma alteração definitiva desse modelo escolar no tocante à educação plural e
intercultural, é essencial a formação de professores e gestores da educação comprometidos
com uma visão crítica e atuante. Para romper, por exemplo, com práticas antipedagógicas
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Nesse contexto, vale citar Elza Nadai, que afirmava que “O resultante dessa abordagem reproduzida há décadas nos
programas de História foi a construção de algumas abstrações, cujo objetivo tem sido realçar, mais uma vez, um país irreal”
(NADAI, 1992, p. 150).
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Sobre esta questão, Nadai (1992, p. 142) conclui: “Assim, a História, enquanto disciplina educativa ocupou nas suas origens,
um lugar específico, que pode ser sintetizado nas representações que procuravam expressar as ideias de Nação e de cidadão
embasadas na identidade comum de seus variados grupos étnicos e classes sociais constitutivos da Nacionalidade brasileira”.