Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 255

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É interessante observar que, ao mesmo tempo que o poema se impõe como
contraponto crítico à obra de Rocha Pita, claramente contestado pelo autor, ele não deixa de
validar o seu elogio aos feitos do governador Antônio de Albuquerque.
A
História da América Portuguesa
foi publicada em Lisboa pela Officina de Joseph
Antônio da Silva, em 1730, e pode ser considerada a primeira produção histórica do Brasil,
pois, apesar de ser a segunda. A obra enquadra-se nos objetivos tanto da academia
brasílica quanto da academia portuguesa e a elaboração, segundo Candido e Castello
(1973, p. 96), a obra foi iniciada na Bahia e concluída em Portugal, “onde dispôs do restante
da documentação necessária, despois da que utilizou entre nós”. Relata os acontecimentos
ocorridos no Brasil desde o seu descobrimento, em 1500 até ao ano de 1724 e divide-se em
dez partes/livros, constituindo-se numa crônica administrativa do Brasil.
Segundo Candido e Castello (1973), a obra é um relato detalhado de fatos e
circunstâncias, louvores a autoridades e figuras de relevo em acontecimentos de cunho
militar e histórico. Está entremeada de detalhes descritivos da paisagem e de aspectos que
evidenciam as riquezas da terra, fundindo, assim, a informação com a crônica histórica.
Segundo Lima (2007), Sebastião da Rocha Pita cria a
História da América
Portuguesa
que pressupõe a defesa de uma teoria da razão de Estado cristã.
Apresentando-se como fidalgo portador de uma autoridade autorizada, escreve uma história
oficial, na qual o Império Lusitano baseava a sua política na defesa prudente da “verdadeira
religião”, mas atribui aos paulistas qualidades imprudentes, como a cobiça, a inveja, a
insubordinação, a maledicência etc., defeitos que não poderiam ser aceitos por Cláudio
Manuel da Costa para sua elaboração poética. Tudo indica que Pedro Taques Paes Leme,
contemporâneo de Cláudio Manuel da Costa, baseia a invenção de sua história Notícias das
Minas de São Paulo e dos sertões da mesma capitania, publicada em 1771, na
correspondência com Cláudio Manuel da Costa e que o “Fundamento Histórico” pode ter
sido a base para a invenção de outras histórias, como a do Frei Gaspar da Madre de Deus
(1975).
Segundo Pessoti (2009), Sebastião da Rocha Pita escreveu sua
História da América
Portuguesa
(1730) sob a influência do novo método historiográfico desenvolvido pela
academia histórica metropolitana, a Academia Real de História Portuguesa e sob os
auspícios de um cosmopolitismo que englobava as academias portuguesas e luso-
brasileiras colocou seus membros em contato com a produção intelectual de vários países
europeus. Se isso não seria suficiente para fazer de Rocha Pita um baluarte de ideias
iluministas, o que ele, de fato, não foi, é preciso considerar que ele manteve contatos com
um circuito intelectual que foi influenciado pela ilustração e que sua obra foi o reflexo
elaborado com base na colônia, em uma tentativa de renovação de práticas eruditas
desenvolvidas na metrópole sob uma perspectiva que dialogava com preceitos iluministas.
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