Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 259

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JOSÉ VERÍSSIMO: EXPERIÊNCIAS E VALORES
Marcio Roberto PEREIRA
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O estudo da pátria brasileira não como simples agremiação política, mas como uma
nacionalidade consciente deve ser o ponto de partida de todos os seus escritores,
de todos os seus sábios e de todos os seus artistas, e a única base positiva para
assentarem uma cultura verdadeiramente nacional. É esta a inspiração da minha
obscuríssima vida literária e o espírito que dirige todos os meus trabalhos.
José Veríssimo,
Estudos Brasileiros
, 1889.
O mosaico de métodos formadores da
História da Literatura Brasileira
(1916), de
José Veríssimo, separa aquelas obras que no decorrer do tempo constituiriam, segundo o
crítico, o caminho “natural” para o universalismo: cor local, indianismo e nacionalismo. A cor
local seria encontrada em Bento Teixeira, Botelho de Oliveira e Gregório de Matos; o
indianismo apareceria nas obras de Gonçalves Dias e de José de Alencar, entre outros; o
nacionalismo seria delineado nas obras dos escritores românticos e, por fim, o universalismo
estaria na obra de Machado de Assis. Assim sendo, o presente trabalho analisa a
construção do cânone literário nacional com base no percurso proposto por José Veríssimo.
Os intelectuais da “geração de 70”, valendo-se de uma perspectiva dinâmica da
história, discutem e contribuem para a formação de um novo pensamento na literatura e
cultura brasileira, definindo uma elite intelectual que configura uma “ilustração” no
desenvolvimento do ideário nacional. Machado de Assis, por exemplo, referindo-se aos
poetas da “nova geração”, acreditava que esse
bando de ideias novas
, não seria o
principal responsável pela definição da qualidade literária nacional. Ao analisar essa “nova
geração”, Machado de Assis observa:
A geração atual tem nas mãos o futuro, contanto que lhe não afrouxe o entusiasmo.
Pode adquirir o que lhe falta, e perder o que a deslustra; pode afirmar-se e seguir
avante. Se não tem por ora uma expressão clara e definitiva, há de alcançá-la os
idôneos. Um escritor de ultramar, Sainte-Beuve, disse um dia, que o talento pode
embrenhar-se num mau sistema, mas se for verdadeiro e original, depressa se
emancipará e achará a verdadeira poética. (MACHADO DE ASSIS, 1994, p. 241-
242).
O entusiasmo a que se refere Machado de Assis pode ser caracterizado pela
necessidade de formulação de um conceito de identidade nacional que produz um diálogo
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Docente - Departamento de Literatura - Faculdade de Ciências e Letras de Assis – Unesp – Univ. Estadual Paulista, Campus
de Assis – Av. Dom Antonio, 2100, CEP: 19806-900, Assis, São Paulo – Brasil. E-mail:
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