Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 269

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estava ancorada na noção de pátria, povo, língua e território. Na segunda metade do século
XIX, as questões de raça e meio geográfico estão interligadas aos ideais de nação e
construção da cultura brasileira. Essa construção, no caso de Veríssimo, será solidificada
por meio da definição de um cânone literário que considera o Rio de Janeiro como o
representante ideal da cultura nacional.
Sintetizando suas preocupações intelectuais, José Veríssimo cria alguns
pressupostos para sua
História
: a literatura brasileira é independente e reflete o pensamento
de um povo porque adquiriu certa autonomia linguística que cria obras com características
inerentes a uma nação independente. A literatura brasileira é formada por dois períodos
(colonial e nacional) que se vinculam ao “desenvolvimento” da sociedade brasileira.
Literatura é arte literária: essa definição de Veríssimo será o ponto de partida para a
utilização de um instrumental crítico que fará a separação entre uma visão histórica da
literatura, presente no período colonial, de uma visão estética da literatura. Assim sendo, a
História
segue um caminho cronológico que expõe a “marcha” da literatura nacional a partir
da “seqüência natural dos fatos literários” (VERÍSSIMO, 1916, p. 33) vinculados à “evolução”
literária nacional, mediante a articulação entre o ponto de vista estético e o histórico em que
os escritores são divididos em “singular individualidade” ou “subsidiários”. O resultado de tal
compreensão, por parte de Veríssimo, é a ideia de que “desenvolvimento implica formação e
vice-versa” (VERÍSSIMO, 1916, p. 25) porque, a partir do Romantismo, a literatura brasileira
sofre novos contatos e novas reações; a literatura é formada pela inter-relação entre
leitor/obra/público. Os escritores selecionados por José Veríssimo, dessa forma, nasceram
no Brasil e a história da literatura deve estar preocupada apenas com aqueles escritores que
sobrevivem na memória coletiva da nação.
Outra característica importante para a seleção dos escritores que compõem a
História da literatura brasileira
é a definição de que, isolada ou em relação ao seu meio e
seu tempo, a obra literária deve possuir “virtudes de pensamento e de expressão”
(VERÍSSIMO, 1916, p. 33) possuir um interesse permanente e dar prazer intelectual aos
leitores.
Esses pressupostos entrelaçam-se na busca de uma justificativa e significação para
a obra de Veríssimo no contexto do século XIX. Não é por acaso, portanto, que o crítico
inicia sua “Introdução” delineando o processo de emancipação cultural do Brasil:
A literatura que se escreve no Brasil é já a expressão de um pensamento e
sentimento que se não confundem mais com o português, e em forma que,
apesar da comunidade da língua, não é mais inteiramente portuguesa. É
isto absolutamente certo desde o Romantismo, que foi a nossa
emancipação literária, seguindo-se naturalmente à nossa independência
política. Mas o sentimento que o promoveu e principalmente o distinguiu, o
espírito nativista primeiro e o nacionalista depois, esse veio formando desde
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