Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 266

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e conteúdo ou da forma e linguagem, o conceito genérico ou específico de
literatura. A história da crítica envolve, como observa René Wellek, uma
série de debates sobre conceitos recorrentes e contestados. (VENTURA,
1991, p.11).
Partindo de conceitos centrados no positivismo e no cientificismo, José Veríssimo
organiza um campo intelectual, convertendo a crítica literária num gênero, que traduz,
legitima, e hierarquiza as obras literárias em fatores intrínsecos e extrínsecos ao campo
intelectual de ação.
Agindo ambiguamente como uma espécie de representante dos escritores e porta-
voz do público, o crítico literário elabora seu discurso por meio de um ponto de vista literário
que está agregado ao discurso de sua esfera pública. Os
conceitos
dos críticos românticos,
dessa forma, procuram um ponto de equilíbrio entre história e literatura, tendo o índio como
principal representante. Sílvio Romero, por outro lado, elege o mulato —
tipo
variadíssimo
para a elaboração de uma identidade nacional, apontando não somente a mestiçagem
racial, mas a
mestiçagem moral
como forma de sustentar a nacionalidade em bases
científicas, mesológicas e etnológicas.
Os conceitos que Veríssimo adota em sua
História da literatura brasileira
também
possuem a característica da recorrência ou da contestação. Ao mesmo tempo que renega
algumas fontes como critério único de análise do processo de formação da literatura
brasileira, o crítico procura acompanhar a evolução da literatura brasileira por meio de um
sistema ou sequência
que se inicia com a transformação do nativismo em nacionalismo e,
por fim, em universalismo. Veríssimo não pretende apenas historiar, como faziam os
românticos, todos os escritores delimitados em escolas estéticas, mas relativizar a
importância do escritor para a sociedade brasileira e selecionar aquelas obras que possuem
traços diferenciais
– ou passaram por uma seleção natural
fazendo parte do cânone
literário nacional. José Veríssimo define que:
Menos ainda do que qualquer dos gêneros literários aqui versados, não se
constitui a crítica em aplicação particular da atividade literária. E como se
não tivesse outra doutrina que o gosto pessoal dos que eventualmente a
faziam, fosse pura externação de impressões, mais no intuito de louvor ou
censura, que no de exame e explicação da obra, afetasse um tom retórico e
ordinariamente se excedesse em divagações escusadas de trivialidades
literárias ou em banalidades conceituosas, essa crítica, afora que é
propriamente história literária feita por um Varnhagen, um Norberto, um
Sotero e ainda um Fernandes Pinheiro, apenas deixou de si um outro
documento estimável. Nada obstante foi útil e, ainda com as suas falhas e
defeitos, serviu ao desenvolvimento das nossas letras. (VERÍSSIMO, 1916,
p. 275).
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