Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 256

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Porém, apesar de tentar se adequar a essa nova perspectiva de construção
historiográfica, percebe-se, ainda, um vínculo temático voltado aos ideais escolásticos no
que se refere ao seu posicionamento acerca da congregação religiosa renegada
posteriormente por Pombal. Talvez, esse caráter de transição escolástica-iluminista esteja
relacionado às múltiplas visões dos integrantes da Academia Brasílica dos Renascidos, que
contribuíram com seus escritos para compor a dita história.
Segundo Moraes (2012), o teor da
História da América Portuguesa
(1730) de
Sebastião da Rocha Pita é:
[...] curiosamente objeto de polêmica atitude do acadêmico que, participante
da Academia Real de História Portuguesa, como acadêmico correspondente
ou supranumerário, ao lado de Gonçalo Soares da Franca (outro brasileiro
da academia portuguesa), acaba por enviar como trabalho de sua autoria
um conjunto de pesquisas realizadas pelos acadêmicos Esquecidos, ao
longo de um ano de conferências e debates. Consta das Actas da Academia
Real de História, em conferência de Novembro de 1725, a menção ao
acadêmico supranumerário Sebastião da Rocha Pita, o qual entrega à
agremiação portuguesa os resultados dos trabalhos realizados no Brasil.
(MORAES, 2012, p. 47).
O autor, além de citar a própria documentação-fonte utilizada, deixa também
transparecer sua experiência pessoal. No “Fundamento Histórico”, novamente, por exemplo,
a origem documental é explicada, fazendo-se alusões também à tradição e à memória de
possíveis testemunhas. Há uma clara preocupação em convencer o leitor da veracidade das
informações contidas na obra. Por se tratar de empresa que exige fôlego, a composição do
poema épico não dá conta, por si só, da matéria que narra. Por essa razão, há um
alongamento na exposição sobre os anos de colonização de Minas Gerais, e esse
alongamento corresponde ao “Fundamento Histórico”, que contempla referências às
fundações dos principais arraiais, divisão das Comarcas, descrição da série dos
Governadores das Minas e descoberta das esmeraldas. Além dessa extensão responsável
pela contextualização, as notas explicativas constantes no poema auxiliam o leitor a se
situar, uma vez que são inseridas citações, explicações e justificativas. Assim, o autor serve-
se de inúmeros complementos para sustentar o seu poema.
Percebe-se, então, que a ideia de construir uma epopeia com temática voltada à
descoberta dos metais preciosos não constituía empresa original; aliás, o conceito de
originalidade pouco valia nessa época. Ao compor seu “Fundamento Histórico”, assim, o
autor demonstra ampla pesquisa tanto em fontes documentais quanto em fontes literárias, o
que permite que se estabeleça um diálogo entre esses dois gêneros.
A história pode ser encarada como algo “concreto”, mas que também pode conter
aspectos ficcionais, por sua relação com a memória. Assim como o poema épico, que finca
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