Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 254

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de ser o poeta de sua terra, Cláudio Manuel da Costa foi o seu historiador, tanto é que
construiu sobre os enredos da história a sua poesia. Porém, nota-se, no “Fundamento
Histórico”, a falta de consistência nas informações relativas às fontes, que abrem espaço
para uma leitura pouco esclarecedora. A tentativa de afirmar que sua obra prima pela
“verdade” cai em contradição. Assim, o lado poeta, conhecedor dos artifícios da
verossimilhança, aparece, comprovando que antes de ser político e historiador, Cláudio
Manuel da Costa é um artista, criado não pela Arcádia (como afirma), mas pela sua própria
escola, apesar de ter recebido influxos de todo o espírito da época em que viveu. O
historiador Cláudio Manuel da Costa apoia-se em uma memória criada e já cristalizada para
compor seu poema. Segundo Lopes (1985, p. 54),
[Cláudio Manuel da Costa] recorreu à tradição, “que conserva os feitos, e
aos escritos de algum gênio curioso”, “testemunha de vista” dos
acontecimentos. Entre eles, os já lembrados, Bento Fernandes Furtado e
Pedro Taques de Almeida Paes Leme. O primeiro, Cláudio conheceu-o
pessoalmente: “Confiou ele ao autor em sua vida alguns apontamentos, que
fizera, [...]”. Já o poeta verificou, a tempo, como as notícias de Bento
Fernandes discordavam de outros autores e vai conferi-las com as de
Sebastião da Rocha Pita e os documentos das Câmaras de São Paulo e
Minas.
Os apontamentos a que se refere Cláudio Manuel da Costa constituem a narrativa
intitulada Notícias dos primeiros descobridores das primeiras minas de ouro pertencentes a
estas Minas Gerais, pessoas mais assinaladas nestes empregos e dos mais memoráveis
casos acontecidos desde os seus princípios, publicada na edição crítica do Códice Costa
Matoso, organizada pela Fundação João Pinheiro.
O primeiro documento que se refere a Albuquerque como um herói pacificador é a
obra
História da América Portuguesa
, de Sebastião da Rocha Pita, citado como Sebastião
de Pita Rocha por Cláudio Manuel da Costa. Albuquerque é colocado ao lado dos
emboabas, como seu partidário, e suas ações consideradas honrosas, pois havia
estabelecido ordem em meio à tirania dos paulistas. Sebastião da Rocha Pita (1976)
descreveu a passagem do governador pelas Minas como uma empresa destinada a: “reduzir
aquele grande número de súditos, que vagava sem firmeza, à vida urbana e política,
erigindo as seis vilas cujos nomes deixamos já escritos” (PITA, 1976, p. 246). À exaltação
da figura do governador pelos emboabas, que teriam mesmo rogado a sua intervenção em
território mineiro, contrapõe-se a detração dos paulistas, descritos como os adversários de
Albuquerque, ameaçado e maltratado por eles no encontro nas imediações da vila de
Guaratinguetá.
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