Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 244

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Além disso, são características próprias das sociedades humanas os elementos
diferenciadores. A Europa é um grande exemplo disso, apesar de certa visão equivocada de
um patrimônio cultural único, é formada por diversos povos, línguas, dialetos, religiões. Uma
educação que corrobore para a interculturalidade e que auxilie a conhecer, respeitar e trocar
com outras culturas possibilita a todos acessar o patrimônio cultural dos povos indígenas e
africano.
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No tocante, especificamente, ao tema da educação indígena, ocorreu o mesmo
percurso de lutas, cobranças e reivindicações relatadas até aqui, porém somam-se outras
importantes questões que desatacaremos a seguir.
Muitos especialistas são categóricos em afirmar que existem danos irreparáveis no
caso indígena brasileiro. Em virtude do modelo educacional e de políticas públicas baseadas
na ideia de uma educação civilizadora para os povos indígenas, considerados selvagens e
insubmissos, ocorreu o desaparecimento de muitas línguas, consideradas atualmente como
extintas, assim como inúmeras tradições.
Nessa perspectiva, a lei nº 10.645/08 é também fruto de intenso debate e atuação do
movimento indígena em defesa da história, ensino e da cultura indígena. Infelizmente,
apesar da lei, observa-se que as escolas ainda reproduzem o
hábito de discutir a história
dos povos indígenas ou dos afrodescendentes somente em datas comemorativas como o
Dia do Índio ou no Dia da Consciência Negra. Essa situação, inevitavelmente, corrobora
para a manutenção da visão preconceituosa e fragmentada da história dos povos, repetindo
os equívocos e as distorções históricas. Precisamos ir além.
De acordo com os pioneiros dos movimentos indígenas, totalizam-se, na verdade,
cinco séculos de resistência ao contato e dominação dos povos brancos. No caso indígena,
para além das mudanças e implementações no currículo oficial de ensino de História, soma-
se a luta pelo direito da escola indígena de fato: diferenciada, bilíngue e intercultural. Nessa
concepção, rompe-se com a crença equivocada de uma escola única e universal. Nessas
escolas, o trabalho pedagógico valoriza a oralidade e a reconstrução de memórias.
Esta escola não é isolada, ao contrário, é intercultural porque pressupõe o diálogo
entre as tradições indígenas e o conhecimento científico. Diferente daquele índio estático,
imóvel há 500 anos e que não pertence ao tempo presente, o movimento indígena quer se
relacionar com o mundo, porém, sem perder sua cultura de dinâmicas próprias de seus
povos.
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Para aprofundamento em relação aos conceitos de inter e multiculturalidade, indicamos McLaren (1997) e Silva (2010).
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