Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 251

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Essa passagem adequa-se perfeitamente ao “Fundamento Histórico” de Cláudio
Manuel da Costa. Sua estrutura, apesar de ser condizente ao ideal ilustrado, com o intuito
de buscar a veracidade dos dados apresentados, pautava-se também na memória, por
entender que a palavra do homem servia como comprovação, assim como os demais
documentos. No poema “Vila Rica”, o recurso à memória também se faz presente e ocorre
pela tentativa de criação de um mito. Sobre o funcionamento da memória no discurso da
poesia mineira setecentista, Marques (1993, p. 264) afirma que “há a memória arquivo que
endossa a tradição, vista como passado petrificado” e a “memória operadora de diferença
em que o passado é retomado como objeto de reflexão e apreendido como algo dinâmico,
marcado pela mobilidade do presente na poesia mineira do setecentos parecem coexistir
esses dois tipos de memória” (MARQUES, 1993, p. 264). Esses dois tipos figuram no
poema “Vila Rica” e no “Fundamento Histórico”, presentes em Costa (1996), uma vez que
parte do conhecimento histórico arraigado na mentalidade dos habitantes, para, com base
nele, refletir sobre os fatos, aplicando, assim, novas possibilidades com recurso da ficção.
O “Fundamento Histórico”, alternando documentos e memória, constrói um pano de
fundo para a leitura do poema. Apesar da intenção de sua escrita não poder ser afirmada,
entende-se que é um texto que supre a carência dos leitores que buscam informação e
cumpre o seu papel de base para o texto literário sem necessariamente precisar vincular-se
a ele.
Acredita-se, assim, que a escrita do “Fundamento Histórico” funcione como um
recurso didático, elaborado com a finalidade de esclarecer episódios históricos mostrando
sua veracidade, mas também se constitui como texto autônomo.
***
Um documento histórico não poderia conter os elementos ornamentais, já a poesia,
por ser menos voltada à realidade, não poderia suprir as necessidades práticas de um
documento baseado em comprovações documentais. No entanto, o hibridismo que não seria
decoroso na alternância entre poesia e dissertação pode ganhar nova roupagem no modelo
prefacial da advertência, do prólogo ou na linguagem dramática, do argumento.
Cláudio Manuel da Costa seguiu o modelo de Voltaire em
La Henriade
,
ao
articular o
particular do historiador e a universalidade poética. Deste modo, emula o poeta francês, por
exemplo, no uso de notas explicativas ao longo do poema, com remissão a documentos
e/ou obras impressas que levariam, a todo instante, o leitor a se deparar com a “verdade”
dos eventos narrados. Conferindo “historicidade” aos fatos, Cláudio Manuel da Costa estaria
compondo um “mito” para ser explorado pela poesia, uma vez que não havia distanciamento
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