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dessa região para servir de base a uma ambição maior: a construção de um poema épico
para imortalizar sua “pátria”. Sua empresa mostra-se socialmente útil e agradável.
Cláudio Manuel da Costa afirma que suas provas são as mais fiéis à realidade, mas
não as demonstra, não cita de onde vieram. O lado “histórico” de sua produção parece,
assim, enfraquecido e é a falta de explicação que serve de subsídio para a mitificação do
“Fundamento Histórico”, à medida que alguns elementos imprecisos (enquanto informações)
são utilizados à sombra das informações colhidas na academia, tornando a matéria
verossímil, e, portanto, criadora do universo filosófico, na concepção dos poetas antigos, no
qual a poesia figura como aquilo que poderia ter sido (cf. ARISTÓTELES, 2005, p. 44-45),
ou seja, Cláudio Manuel da Costa é acadêmico, poeta e pesquisador, mas ao colocar
elementos imprecisos no “Fundamento Histórico” faz dialogar histórico e verossímil.
Dois nomes são importantes para que se possa entender o teor do documento: o do
Coronel Bento Fernandes Furtado e o de Pedro Taques de Almeida Paes Leme.
Entre os desta conduta deu um importante socorro o Coronel Bento
Fernandes Furtado, natural da Cidade de São Paulo, que há poucos anos
faleceu no Serro do Frio, tendo sido morador no Arraial de São Caetano,
distrito da Cidade Mariana. Confiou ele do Autor em sua vida alguns
apontamentos que fizera, e achando-os o Autor em muita parte dissonantes
do que havia lido na História de Sebastião de Pita Rocha e outros escritores
das cousas da América, procurou confirmar-se na verdade pelos
monumentos das Câmeras e Secretarias dos Governos das duas
Capitanias, São Paulo e Minas.
O Sargento-Mor Pedro Taques de Almeida Paes Leme, natural também da
mesma Cidade de São Paulo, e ali morador, de estimável engenho e de
completo merecimento, remeteu ao Autor desde aquela Cidade todos os
documentos que conduziam ao bom discernimento desta obra, e regendo-
se o Autor por Ordens Régias, Cartas de Governadores e atestações de
Prelados Eclesiásticos, e manuscritos desde a era de 1682 achados nos
arquivos que foram dos padres denominados da Companhia de Jesus
naquela Província, facilmente poderá desculpar-se se oferece ao público
este Poema, sem o receio de ser insultado nas opiniões que sustenta, ainda
quando mais contestadas de uns e outros sectários.
(COSTA, 1996, p. 360).
Cláudio Manuel da Costa uniu, assim, em seu documento, estes dois elementos: a
“memória”, que teve como suporte as contribuições do Coronel Bento Fernandes Furtado,
que lhe teria confiado, pouco antes de morrer, “alguns apontamentos” que fizera; e a parte
correspondente à história em si, que foi construída graças ao auxílio de Pedro Taques de
Almeida Paes Leme, que enviou ao autor documentos de teor incontestável, como as
ordens régias, cartas de governadores e atestações de prelados eclesiásticos, além de
manuscritos desde a era de 1682.
Segundo Lopes (1985), o “Fundamento Histórico” pode ser lido sem o poema. Mas
antes da leitura do poema convém que seja lido o “Fundamento Histórico”. O autor ressalta
que o documento prepara o leitor para que ele compreenda a narrativa. Declara que, antes