Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 263

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nacional brasileiro. Resta ao crítico, no entanto, a tensão de retratar a obra de Machado de
Assis e inseri-la num contexto universal que determina a valorização do critério estético
como o “natural desenvolvimento” das letras nacionais. Para João Alexandre Barbosa, a
História da literatura brasileira
:
Surgida sob o impacto poderoso que provocara no Brasil a difusão daquilo
que ele mesmo (José Veríssimo) chamava de
bando de idéias novas,
sobretudo a partir dos anos 70, isto é, os princípios do positivismo, do
evolucionismo e do determinismo, não apenas buscava fazer a crítica de
princípios românticos que informara a atividade crítico-histórica
imediatamente anterior, mas fazia da história literária a expressão de uma
interpretação de largo espectro da cultura no Brasil, a
História
de José
Veríssimo já revelava o diálogo, sempre problemático para um homem de
sua formação, em tudo semelhante à de Sílvio Romero, com os novos
modelos de crítica, instaurados, como sempre acontece, a partir das
próprias inovações literárias. (BARBOSA, 1974, p.116).
Para se ter uma ideia da complexidade do campo intelectual do século XIX, José
Veríssimo, ao escolher Machado de Assis para centro de seu cânone literário nacional,
deixa de lado muitos escritores, como Euclides da Cunha (1866-1909) e Lima Barreto (1881-
1922), que seriam conflitantes em relação aos propósitos do crítico. Assim sendo, o campo
intelectual proposto por Veríssimo não poderia ser definido por escritores que mostrassem
os problemas sociais do Brasil, mas por escritores que, de certa forma, continuassem um
padrão de “esfera pública” centrado nos ideais europeus de civilização.
Até 1870 a crítica literária brasileira era formada por escritores que, despojados de
um instrumental teórico nomeadamente científico, reconheciam a história da literatura mais
por seu lado histórico do que pelo literário. Fazem parte dessa fase, entre outros, escritores
estrangeiros e brasileiros como Friedrich Bouterwek (1765-1828), Sismonde de Sismondi
(1773-1842), Ferdinand Denis (1798-1890), Gonçalves de Magalhães (1811-1882), Santiago
Nunes Ribeiro (falecido em 1847), Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), Joaquim
Norberto de Sousa Silva (1820-1891). Tais escritores – estimulados pela fundação da
Imprensa Régia no Brasil, pelo decreto de 1808, e pelo movimento de Independência –
promoveram a discussão sobre a literatura brasileira e suas relações com o
desenvolvimento da nação.
A crítica literária feita no decorrer do Romantismo esboça as primeiras
sistematizações da literatura brasileira, reconhecendo a “brasilidade” dos escritores que
escrevem sobre o Brasil. Os críticos românticos, ao recolher, catalogar e recuperar os textos
que formam a literatura brasileira, fornecem as primeiras manifestações de uma cultura
erudita que ratifica o desenvolvimento da nação brasileira configurando, assim, um corpus
que será revalidado pelos críticos naturalistas com base em uma variedade de modelos
teóricos vindos da Europa.
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