Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 268

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refere aos pressupostos de uma teoria da história literária capaz de recortar o passado por
meio das obras e escritores mais importantes e não com base na formação de uma história
da literatura confundida com um dicionário literário ou com uma história dos costumes.
Conforme Brunetière:
Literatura, diríamos, move-se por ação e reação, convenção e revolta. Esse
movimento não é, decerto, automático, mas resultado de forças humanas;
uma obra original muda a direção do desenvolvimento; uma obra
convencional o continua ou o repete. A individualidade adquire assim um
enorme papel histórico nesse esquema de um bom neoclássico; assim, a
individualidade introduz na história literária algo que não existia antes, que
não existiria sem ela, que continuará depois dela. (apud WELLEK;
WARREN, 2003, p. 63).
A lição sobre o cânone, conforme Brunetière descreve acima, também servirá de
parâmetro para as escolhas de Veríssimo ao montar sua
História da literatura brasileira
. É
importante salientar que o conceito de evolução de Brunetière valoriza o “momento”, ou
ponto de mudança, do aparecimento de uma obra singular inserida num “mapa geral” da
evolução literária. Ao escrever sua
História
num momento de mudanças na estrutura da
sociedade brasileira, em que se tem a definição de uma sociedade industrial, tecnocientífica
e urbana, Veríssimo valorizará o “momento passado” como modelo estético para a
recuperação de um ideal clássico de literatura.
O resultado da influência de Brunetière no pensamento de Veríssimo é a elaboração
de uma história da literatura construída segundo uma herança cultural nacional filiada ao
contexto do século XIX, que servirá como ponto de apoio para futuros historiadores. O ideal
do crítico, portanto, seria apresentar uma totalidade de escritores e obras articuladas por
meio da inter-relação de elementos estéticos, históricos, sociais, culturais e filosóficos.
Apesar de estar em contato com várias teorias e estéticas, José Veríssimo busca,
em sua
História,
uma totalidade orgânica que entrelaça um ideal universal de beleza à
manifestação de um espírito nacional original e independente. A constante busca por uma
renovação de ideias e teorias, como define Heron de Alencar (1963), ou o amadurecimento
do crítico por meio da distinção das três fases do crítico paraense feita por João Alexandre
Barbosa, mostram José Veríssimo estabelecendo uma conexão entre a formação de uma
história liberal, calcada nos ideais da filosofia e arte clássica, e uma história da nação
brasileira que tem como princípio a definição de um povo e uma cultura independente e
original. De certa forma, seria a comprovação do resultado de um processo civilizatório que
transforma a colônia em república independente.
Carregado de tensões, o campo social está integrado ao campo intelectual na
formação da identidade nacional: na primeira metade do século XIX, a identidade nacional
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