Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 275

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Obviamente, nos currículos de ensino de História, a seleção não ocorre de modo
diferente, sendo “[...] sempre, produto de escolhas, visões, interpretações, concepções de
alguém ou de algum grupo que, em determinados espaços e tempos, detém o poder de
dizer e fazer” (SILVA; FONSECA, 2010, p. 16-17).
Quando a disciplina de História foi incluída nos currículos escolares, tinha como
principal objetivo a disseminação da ideia de nação ao “[...] legitimar sua ordem social e
política – e ao mesmo tempo seus dirigentes – e inculcar nos membros da nação – vistos,
então, mais como súditos do que como cidadãos participantes – o orgulho de a ela
pertencerem, respeito por ela e dedicação para servi-la” (LAVILLE, 1999, p. 126). O ensino
dessa disciplina foi utilizado para moldar os jovens de acordo com o que cada política
dominante acreditava ser mais adequado para seu país.
No Brasil, o ensino de História passou por várias transformações desde que fora
implantado na escola no século XIX e, dependendo do contexto em que estava inserido, sua
importância foi ora mais ora menos significativa dentro do currículo escolar. Silva e Fonseca
(2010, p. 15-16) escrevem que:
[...] a partir do século XIX, identificam-se dezoito programas de Ensino
relativos às reformas curriculares entre os anos de 1841 e 1951. Esses
programas foram organizados pelo Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, de
acordo com as diretrizes das várias reformas curriculares ocorridas naquele
período. Os textos dos documentos curriculares “prescritos” são
reveladores de objetivos, posições políticas, questões teóricas que
configuram não apenas o papel formativo da História como disciplina
escolar, mas também estratégias de construção/manipulação do
conhecimento histórico escolar.
No século XIX, o ensino de História era utilizado para veicular a “história nacional” e
constituir uma “identidade nacional” no Brasil (BITTENCOURT, 2011; FONSECA, 2011;
NADAI, 1992/1993; PINSKY, 2000).
O fio condutor do processo histórico centralizou-se, assim, no colonizador
português e, depois, no imigrante europeu e nas contribuições paritárias de
africanos e indígenas. Daí a ênfase no estudo dos aportes civilizatórios – os
legados pela tradição liberal européia. Desta forma, procurava-se negar as
condições de país colonizado bem como as diferenças nas condições de
trabalho e de posição face à colonização das diversas etnias. Procurou-se
criar uma
idéia de nação
resultante da colaboração de europeus, africanos
e nativos, identificada às similares européias. A dominação social (interna)
do branco colonizador sobre africanos e indígenas bem como a sujeição
(externa) do país-colônia à metrópole não foram explicadas. (NADAI,
1992/1993, p. 149, grifos nossos).
Sendo assim, o início do ensino de História no Brasil tinha a proposta de voltar-se
para a construção a ideia de nação associada à de pátria (BITTENCOURT, 2011), buscando
a formação da “identidade nacional”, despertar o patriotismo e ensinar as tradições
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