Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 282

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O grande projeto dos escritores da geração de 30, bem como o de Fontes, era
retratar a realidade, a sociedade, com o máximo de objetividade possível. A geração de 30,
grupo de escritores que se voltavam integralmente ao romance social, foi o desdobramento
do realismo do século XIX, e assim como eles desejavam pintar o quadro da sociedade,
para Flora Sussekind “são escritores que se negam enquanto ficção, enquanto linguagem,
para ressaltar o seu caráter de documento, de espelho ou fotografias do Brasil”
(SUSSEKIND, 1984, p. 43).
Por essas razões, pelo ensejo de representação da sociedade tal como qual, a
geração de 30 ficou conhecida como neorrealista, porém há pontos de divergência entre
essas duas gerações. O realismo do século XIX manifestava-se como socialista em seus
projetos, no entanto estava mais preocupado com questões patológicas. Já os romancistas
de 30 tinham como objetivo primordial relatar e tratar de questões sociais em suas obras,
além de muitos escritores dessa geração serem engajados em projetos sociais e políticos.
Amando Fontes, ao caracterizar o realismo de sua obra afirmou:
Tentei construir as figuras de meu romance, tais como os homens nascem e
andam pelo mundo. Ora são bons, ora são maus. Às vezes, onde não
esperamos um gesto nobre, vemo-lo praticado; e de onde são aguardados
atos dignos, vemos surgir uma ação menos meritória. Não tive a
preocupação de dignificar o gênero humano; também não tive o intuito dos
Flaubert, dos Eças, do Gide, de desmoralizá-lo a toda prova. “Singe de
Dieu”, quis imitá-lo apenas, e jamais corrigi-lo. (apud BUENO, 2006, p. 191).
Como o próprio romancista declarou, ele não teve o intuito, a pretensão, assim como a
maioria dos escritores da década de 30 também não o tiveram, de reduzir o homem ao nível
animal, de trabalhar com questões patológicas, mas tiveram como intento a representação,
imitação (como indicou Fontes) das chagas sociais.
Em
Os Corumbas
, como o próprio título já elucida, é contada a estória da família
Corumba, que antes residia no interior de Aracaju, engenho de Ribeira, mas com a seca a
situação financeira se agrava muito, então decidem migar para a Capital, pois lá tinham a
certeza de uma vida melhor. No entanto a cidade “grande” corrompe o lar familiar, as filhas
tornam-se prostitutas, com exceção de Bela, que morre e do filho Pedro que, por envolver-
se com política de esquerda, é deportado ao Rio de Janeiro.
Os realistas e também neorrealistas julgavam que para atingir um melhor nível de
representação da realidade era necessária a apresentação de um enredo com o máximo de
objetividade possível, o que foi feito com muito êxito por Amando Fontes. Qualquer traço de
subjetividade ou sentimentalismo é dificilmente encontrado na narrativa, mesmo nas cenas
de abandono do lar por parte de todos os filhos, com exceção de Bela que morre. Quando a
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