Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 287

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Não é um romance telúrico, apesar de, no início da narrativa, a família ter se exilado,
em virtude da seca que não permitia nem o mínimo para subsistência do lar. Além do que,
essa situação financeira da família e de todas outras famílias daquela época que dependiam
da agricultura se agravou muito mais com a crise.
Gilberto Freyre, em seu manifesto, alegou que a ideia regional era de atrair a
atenção para temas regionais: cultura, música, comida, religião, ou seja, tudo o que
representasse o peculiar de cada região, que num conjunto é o retrato do Brasil. E o
regional estava sendo esquecido, e se já estava sendo esquecido pelo cosmopolitismo,
então deveria se reavivar e conscientizar a todos desse território existente, dessas pessoas
esquecidas e que são importantes para a constituição da cultura nacional brasileira.
Quando se aborda regiões como o Nordeste, a predominância é de representações
de temas telúricos, uma vez que nesses lugares o homem está estritamente ligado à terra,
sua vida depende dela, eles, na maioria das vezes, plantam lá o que consomem. Isso ocorre
por se tratar de uma região com poucos investimentos industriais, claro que na literatura
regional, uma época em que estavam surgindo ainda as fábricas, não havia investimento lá.
Um lugar que era e sempre foi sem investimento político-econômico, então não restava
outro meio de produção, de rendimento econômico senão a terra, de onde se retirava o que
comer.
Infelizmente, um meio totalmente devastado pela seca que matava os animais e a
produção agricultora, então a vida dos nordestinos sempre estaria ligada a esse tema
telúrico de forma, na sua maioria, sempre trágica.
Outra representação em
Os Corumbas
é a do coletivo: familiar, uma família que se
exila duas vezes por causa da seca e, no decorrer do enredo, a família vai para um coletivo
maior; a fábrica, que representa muitas injustiças sociais e lutas políticas, onde grupos de
esquerda eram formados, liderados pelo pensamento marxista, de uma unidade social e
igualitária.
Pedro era a representação das ideias sociais e pensamentos marxistas, o filho
Corumba entrou para um grupo político de esquerda, representação de outro coletivo no
romance, com a intenção de promover mudanças sociais e trabalhistas, acreditavam,
baseados nas ideias de Marx, que o socialismo seria alcançado por meio da luta de classes
e de uma revolução do proletariado.
Ele é o único personagem no romance que simboliza a utopia, Pedro tem um ideal
do perfeito, o que não aconteceu com a família, pois apenas pensavam em adquirir algo um
pouco mais confortável e melhor para eles que não tinham nada; contudo, em nenhum
momento tiveram um sonho utópico, mas sim um sonho pautado na realidade.
Pedro já havia subido de cargo no trabalho, mas começara a ler os livros de Marx e
queria seguir seus ideais, deixando de lado as críticas dos pais, dizendo que ele era um
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