Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 283

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morte da menina é anunciada, o narrador não deixa espaço para o desenvolvimento desse
sentimento.
Num domingo afinal, enquanto os outros jantavam, ela expirou. Não deu um
gemido, não teve um arquejo mais forte. E parecia dormir um sono calmo, a
expressão doce, os olhos e os lábios entreabertos.
Assomando à porta do quarto, Sá Josefa espantou-se de vê-la tão quieta.
Correu até junto dela. Apalpou-a. Estava fria. Então, a velha chamou pelo
marido:
- Geraldo, vem cá. Depressa! Vem ver uma coisa...
E, quando ele se aproximou:
- Espie. Parece que morreu... (FONTES, 2003, p. 149).
Não é revelado nenhum sentimentalismo por parte dos pais pela morte da filha, feito
proposital pelo narrador, que após narrar essa morte informa que não houve lágrimas e em
seguida já narra que “A GRANDE CHAMINÉ da Têxtil vomitava no espaço rolos de fumo
negro” (FONTES, 2003, p. 150), seguindo a narrativa adiante e sem mostras de
sentimentalismo revela uma narrativa seca, que se perpetua ao longo de todo o romance,
mostrando assim que a vida deve ser, apesar de tudo seguir sempre adiante.
2 regionalismo e representações (mímeses)
Os escritores tinham a consciência do subdesenvolvimento do país na década de 30,
por isso, a partir de então, o intuito era o de valorizar o cotidiano, o único das regiões do
Brasil, além de serem escritos recheados de denúncia social, por esses ideais os artistas
eram denominados de regionalistas, pois tinham o ensejo de representação da sociedade tal
como qual, com suas chagas e mazelas.
Essa geração (década de 30) veio consolidar as inovações propostas pela primeira
fase modernista, que teve início oficial com a Semana de Arte Moderna, em 1922. Os
escritores, músicos e artistas plásticos defendiam: a proposta de reconstrução da cultura
brasileira sobre bases nacionais; a promoção de uma revisão crítica do passado histórico,
tradições culturais; uma eliminação do estigma de colonizados e ligados a valores
estrangeiros. Portanto, todas elas estão relacionadas com a visão nacionalista, porém
crítica, da realidade brasileira.
Houve, na década de 30, o regionalismo, ou como chamado por alguns de
neorrealismo, cujos representantes pautaram-se na observação das relações entre o
homem
versus
o meio e entre o homem
versus
a sociedade.
É importante ressaltar que o período de modernização da década de 30 considerava
perigosa à política qualquer forma de regionalismo, uma vez que esse, além de representar
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