Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 290

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Fatos esses decorridos em seis anos e, após tudo isso, os pais Corumbas – Josefa e
Geraldo –, que foram todos cheios de esperanças, são obrigados pelo destino a voltarem
para o Engenho de Ribeira, pois além de não “terem” mais filhos, encontram-se muito
envergonhados da trajetória que todos eles seguiram, a não ser Bela, que morreu enferma.
É evidente que todo esse processo que a família vivenciou era sua sina e não tinha
escapatória, pois, a partir do momento em que todos saíram de Ribeira, o sonho que os
levou a deixar o interior foi responsável, indiretamente, pela desgraça e catástrofe da
família. Logo, conclui-se que não resta aos personagens outra escapatória, senão o
isolamento geográfico, as meninas irem para outro local e os pais voltarem para Ribeira,
processo esse no qual se localiza o centro da tragédia, da trama do romance, pois o destino
exterior mostra-se mais forte e nada pode ser mudado, por mais que esses pais de família
tentem e tenham esperanças.
Fontes, na sua apropriação da realidade, de forma dramática e real, produziu uma
obra de observação triste, amarga, áspera e crua do meio de Aracaju, um trabalho que se
pode dizer científico, pois fez uma profunda análise da sociedade, estudando os tipos
sofredores, miseráveis e ameaçados injustamente por um destino social e econômico por
causa da carência de recursos e da falta de cultura (estudos), somadas a uma série de
circunstâncias não morais desencadeadas pelas filhas que se tornaram prostitutas. Mostrou,
ainda, as condições trabalhistas, a representação da tensão das mudanças do contexto
histórico: industrialização; êxodo rural; ideologias sociais e exclusão total dos pobres numa
sociedade capitalista.
Em suma, o romance que aborda o coletivo, primeiro a família – antes inseparável –,
vai para a cidade “grande” e lá entra no coletivo das fábricas, consecutivamente, nesse
momento que aparece a figura da fábrica, representando a industrialização, o primeiro
coletivo (a família) começa a se individualizar; uma mostra do que a industrialização fez com
as pessoas, em menor ou maior escala, tornou e ainda torna os seres cada vez mais
fragmentados e individuais, como bem representa a imagem final do romance, em que os
pais, já sozinhos, voltam para Ribeira, sem os filhos.
Referências
BUENO, Luís.
Uma
história
do
romance
de
30
. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo; Campinas: Editora da Unicamp, 2006.
FREYRE, Gilberto.
Manifesto Regionalista
. 7. ed. Recife: Massangana, 1996.
FONTES, Amando.
Os Corumbas
. 25. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003.
SUSSEKIND, Flora.
Tal Brasil Qual Romance?
Rio de Janeiro: Achiamé, 1984.
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