Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 292

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A fotografia foi inventada no contexto da Revolução Industrial, sendo útil para o
desenvolvimento das ciências, bem como para expressões artísticas e culturais, o que
acabou por promover seu aperfeiçoamento através dos tempos, sobretudo, depois de 1860
na Europa e nos Estados Unidos. Segundo Boris Kossoy, no livro
História e Fotografia
, a
fotografia é considerada um meio de representação visual que possibilita o conhecimento de
outras realidades ou
microespaços
sociais. No século XX, em especial, “O mundo [...] se viu,
aos poucos, substituído por sua imagem fotográfica. O mundo tornou-se, assim, portátil e
ilustrado.” (KOSSOY, 2001, p. 26-27).
Para Peter Burke, em
Testemunha Ocular: História e Imagem
, as imagens “[...]
registram atos de testemunho ocular.” (2004, p. 17). Ou seja, os usos das imagens devem ser
encarados como evidências históricas. O próprio desenvolvimento do estudo de outras áreas
na história, como história das mentalidades, história cultural, história do corpo, entre outras,
concedeu espaço para a análise de fontes, como é o caso da fotografia (2004, p. 11).
De fato, a fotografia é uma lente entre o indivíduo e o mundo, se alguém quer
conhecer monumentos arquitetônicos brasileiros, como é o caso do Forte dos Reis Magos
em Natal (RN), ou mesmo a indumentária utilizada pelos grupos sociais que praticam a folia
de reis em Portugal, basta fazer uma pesquisa na internet e surgem inúmeros
enquadramentos fotográficos realizados por profissionais e amadores. Além disto, esta lente
fotográfica pode levar o indivíduo ao mundo que ele quer ver. O exemplo da pesquisa na
internet já fornece tal ideia, logo que há um filtro no ato de investigar; ou seja, quero ver qual
tipo de indumentária, em qual cidade de Portugal, em qual período da história portuguesa?
Ora, se há disponibilidade de encontrar imagens selecionadas na internet, é porque
elas foram depositadas com uma intenção, além da questão delas poderem ter sido criadas
com outra intenção. Como diria Kossoy (2001), o fotógrafo é uma espécie de filtro com
bagagens culturais, o que permite entender a fotografia como:
Materialização da experiência vivida. Doce lembrança do passado,
memórias de uma trajetória de vida, flagrantes sensacionais, ou ainda,
mensagens codificadas em signos. Tudo isso, ou nada disso, a fotografia
pode ser. (CARDOSO; MAUAD, 1997, p. 405).
Em termos de fontes historiográficas, esta problemática que fornece a ideia do
documento fotográfico como algo que congela, determina ou enquadra visualmente
paisagens que são mantidas através dos tempos, proporcionou preconceitos por um bom
tempo. Apesar do desenvolvimento desta técnica, a documentação escrita ainda possuía um
valor superior e, decorrente deste descaso, surgiram dificuldades com relação ao trabalho
com a fotografia, logo que os pesquisadores que a utilizavam, faziam-nos mediante códigos
vinculados à tradição documental escrita. Entretanto, a fotografia, enquanto fonte que
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