Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 295

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esquecimentos e silenciamentos (POLLAK, 1989) produzidos tanto individualmente quanto
coletivamente.
No texto
História e Imagem: Os Exemplos da Fotografia e do Cinema
, Ciro Flamarion
Cardoso e Ana Maria Mauad, pautados na noção de documento/monumento de Jacques Le
Goff
3
, escrevem que uma Imagem/documento traz informações históricas de determinados
períodos e espaços (indumentária, arquitetura, formas de trabalho, locais de produção). Já
“[...] uma imagem/monumento: aquilo que, no passado, a sociedade queria perenizar de si
mesma para o futuro. [...] legitimação de uma determinada escolha quanto, por outro lado, o
esquecimento de todas as outras.” (CARDOSO; MAUAD, 1997, p. 406-407). Ao trabalhar
com memória, portanto, partimos do pressuposto já explicitado por Jacques Le Goff na
década de 1980, de que ambas, ela e a história, estão intrinsecamente ligadas. Ora, “A
memória, na qual cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado
para servir ao presente e ao futuro” (LE GOFF, 2003, p. 471). Neste caso, a fotografia e a
memória também são produções sociais que se entrelaçam.
No caso de celebrações como a Folia de Reis, por exemplo, supõe-se que seja um
momento que motive as pessoas a registrar fotograficamente aquilo que consideram
importante para o festejo, tanto no sentido religioso quanto de sociabilidade e de
preservação de um patrimônio comum. Como salienta Peter Burke:
O uso das imagens, em diferentes períodos, como objetos de devoção ou
meios de persuasão, de transmitir informação ou de oferecer prazer,
permite-lhes testemunhar antigas formas de religião, de conhecimento,
crença, deleite, etc. (2004, p. 17).
Entretanto, como veremos a seguir, tanto a presença como a falta destes registros
fotográficos podem fornecer sinais e indícios para o historiador (GINZBURG, 1990).
A Folia de Reis na imagem fotográfica: compartilhando experiências
A Folia de Reis é uma manifestação do catolicismo popular que, desde o período em
que adentrou ao território brasileiro com os aspectos culturais portugueses, veio tomando
novos moldes na medida em que vai passando de geração a geração e por lugares
distintos. Segundo Vera Jurkevics, em
Festas Religiosas: A materialidade da fé
, sua
permanência está atrelada ao seu sentido inicial que é o de “[...] devoção, e tem conseguido
sobreviver como uma manifestação revestida de um dinamismo próprio, apesar de algumas
mutações, pelas influências regionais que recebe.” (2005, p. 81).
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LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. In:___.
História e memória
; trad. Bernardo Leitão. Campinas, SP: Editora da
UNICAMP, 2003.
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