Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 304

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Todavia, sabe-se que a revista tinha um público fiel e que entre eles estava a realeza
portuguesa.
Conforme abordado no primeiro capítulo, na década de 70, quando
O Ocidente
vem
ao prelo, pairava sobre Portugal a angústia de ser um país atrasado em relação às demais
nações europeias, juntamente com o desejo e o esforço da intelectualidade em ultrapassar o
estado de estagnação cultural e, como ressalta Alda Santos (2009, p. 7) “trilhar o mesmo
caminho de vanguarda civilizacional dos centros europeus”. Aos escritores cabia o objetivo
crucial da intervenção para o diagnóstico dos problemas sociais do país de modo a
promover a revolução no pensamento e, por extensão, na sociedade como ocorria na
Europa. A imprensa era o veículo pelo qual os literatos exerciam essa função social
civilizadora. Como ressalta Daniel Pires (1996, p. 14), “a imprensa periódica mantém uma
ligação direta e intensa com a sociedade. É chamada a intervir, a comentar, a tomar posição
sobre os assuntos ingentes que decorrem”. Neste sentido, cabia aos escritores viabilizar de
maneira simples e clara as últimas tendências literárias, artísticas, filosóficas e científicas de
modo a instruir o leitor deixando-o a par dos acontecimentos do seu país e da Europa.
Levando esses preceitos à risca,
O Ocidente
, em seu Prospecto publicado em dezembro de
1877,
se propõe a “servir de ideia civilizadora e trazer à luz a vida nacional que palpita no
mundo obscuro do esquecimento público” (PROSPECTO, 1877, p. 1), ou seja, firmar a
individualidade e os valores do povo português contribuindo para que Portugal volte a
ocupar lugar de destaque na Europa. A escolha do nome
O Ocidente
, feita por Guilherme de
Azevedo, literato ligado aos escritores da geração de 70, destaca essa intenção.
Tendo por intuito promover a instrução e difundir o conhecimento,
O Ocidente
dedicava maior atenção às atividades artísticas e literárias portuguesas sem, contudo,
deixar de lado as atividades sociais, políticas, econômicas e as inovações científicas,
tornando-se uma das mais importantes revistas do país. Já em seu Prospecto, como
apontado acima, deixa claro seu programa que será seguido à risca ao longo de seus 37
anos de existência:
O empreendimento d’uma publicação ilustrada que exprima justamente o
estado da arte em Portugal e seja exclusivamente nossa; que caracterize o
espírito público nacional e corresponda a necessidade que têm hoje todos
os povos de afirmar a sua individualidade moral e o seu modo de ser no
concreto da civilização [...] A vida portuguesa não está de todo extinta. É
preciso afirmá-la com documentos incontestáveis que sejam reconhecidos
nas chancelarias do progresso; que provem termos saído da vida histórica
da tradição para a existência positiva dos fatos e das ideias
contemporâneas, interessa-nos a conquista das ciências e os esplendores
da arte: que demonstrem enfim, não termos, no mundo moderno, ficado
parado à porta, absortos, extáticos, como um conviva estranho que não se
atreve a entrar por julgar o seu lugar ocupado, sem ter a coragem de
reivindica-lo, no interesse da sua dignidade desprezada [...]. (PROSPECTO,
1877, p. 1).
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