Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 307

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repositório de seus ideais de civilização, progresso, integridade social e de suas
preocupações com as transformações moral, política e social de Portugal. Além disso,
contava com a participação de ilustres desenhistas, gravadores, caricaturistas e pintores da
época, como Manuel Maria Bordallo Pinheiro, Soares dos Reis, Silva Porto, Rafael Bordallo
Pinheiro, Columbano Bordallo Pinheiro, Ernesto Condeixa, José Malhôa, Jorge dos Reis,
Domingos Casellas Branco, Manoel Diogo Neto, entre outros.
Neste sentido, a ideia de periódico ilustrado, popular, literário e instrutivo, focado na
cultura portuguesa e “sem finalidade política” identifica-se diretamente com o jornal ilustrado
O Panorama
(1837), que, com o objetivo de trabalhar “para nos instruir e melhorar nossos
costumes, aumentando a civilização nacional” (INTRODUÇÃO, 1837, p. 2), anunciado em
sua primeira edição, tornou-se verdadeiro modelo para todas as demais publicações
ilustradas portuguesas da época. Tal identificação de
O Ocidente
com esse jornal torna-se
evidente no primeiro número da revista, quando Guilherme Azevedo, ao concluir sua
“Crônica Ocidental”, faz referência ao jornal
O Panorama,
revelando que as pretensões da
nova revista ilustrada permanecem as mesmas já reveladas pelo jornal ilustrado, lançado há
mais de quarenta anos:
Em conclusão, a crônica não faz programa por que o
Ocidente
se impôs
também, de caso pensado, esse preceito. O programa da primeira revista
ilustrada portuguesa, foi escrito há quarenta e três anos. Sem mudança,
duma vírgula podia-se hoje estampar no frontispício desta publicação, as
nobres e singelas palavras com que se apresentava o
Panorama.
(AZEVEDO, 1878, p. 8).
Confirmando, ainda mais, esta intenção de
O Ocidente,
em ser tanto quanto possível
semelhante a
O
Panorama,
a revista traz como gravura, na página inicial do seu primeiro
número, o retrato de Alexandre Herculano, símbolo do Portugal moderno e liberal, resistente
ativo que ligava o compromisso cívico à criação literária (MARTINS, 2007, p. 100 apud
SANTOS, 2009, p. 4), e redator-chefe responsável por esse jornal ilustrado até 13 de julho
de 1839, quando sai da direção, mas permanece entre os seus principais colaboradores.
Desta forma,
O Ocidente
, seguindo o exemplo do jornal
O Panorama
, postou-se
como uma revista ilustrada de instrução que privilegiava os assuntos nacionais de modo a
elevar a consciência dos seus leitores em relação a Portugal.
Embora contasse, como mencionado, com colaboradores de diferentes posições
ideológicas,
muitos dos textos presentes na revista apresentavam uma linha tradicional e
conservadora. Em suas páginas, sobressaía o culto à monarquia, a inclinação aos preceitos
da religião católica, o incentivo à política imperialista e um discurso a favor da moral e da
boa índole, em obediência aos costumes das famílias aristocratas da época. Para tanto, em
seus artigos e gravuras procurava ser “sempre tão amena quanto útil e instrutiva de modo a
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