Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 316

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No Brasil, durante a década de 1910, muito influenciada pela Psiquiatria, a
Psicanálise era apenas citada ou era referência de trabalhos de médicos psiquiatras. Juliano
Moreira, inovador da Psiquiatria no Brasil, refere-se, em 1899, em sua cátedra na Faculdade
de Medicina em Salvador, às ideias e aos artigos científicos de Freud. Fortemente
influenciado pela cultura germânica, foi-lhe fácil conhecer no original as primeiras obras
psicanalíticas. Em 1914, faz uma comunicação à Sociedade Brasileira de Neurose sobre o
método de Freud (PERESTRELLO, 1987, p. 13). Em dezembro deste mesmo ano,
Genserico de Souza Pinto, médico cearense, defende a tese de doutorado
Da Psicanálise –
A sexualidade nas neuroses”.
Para Lourenço Filho, pedagogo também envolvido com a
Psicanálise, a tese de Genserico foi o primeiro trabalho psicanalítico
escrito
em língua
portuguesa (PERESTRELLO, 1987, p. 14). No Rio de Janeiro, Antonio Austregésilo,
presidente da Academia Nacional de Medicina, escreveu vários livros importantes e
reconhecidos na área da neurologia. A psicanalista Marialzira Perestrello, em seus estudos
sobre as origens da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, aponta que a
obra de Austregésilo não possuía profundidade de conhecimento sobre a teoria de Freud,
como era o seu conhecimento sobre neurologia. A esse respeito, a autora relata:
Verifiquei que Austregésilo, desde 1916 – portanto, antes de Franco da
Rocha e Medeiros e Albuquerque -, dedicava linhas e mesmo umas poucas
páginas a algumas ideias de Freud. Não encontrei, entretanto, em
Pequenos males, Erros de amor, Cura dos nervosos
e
Psicanálise da
sexualidade,
qualquer exposição sistemática da teoria psicanalítica, como o
fizeram os dois precursores, por último citados; deu-me a impressão que
pouco leu Freud de primeira mão.
(
PERESTRELLO, 1987, p. 16-17).
O interesse sobre a teoria psicanalítica cresce ao final da década de 1910. Em 1919,
o professor Francisco Franco da Rocha, em sua cátedra na Faculdade de Medicina de São
Paulo, fez uma conferência didática intitulada “Do delírio em geral”,
na qual demonstra a
importância das ideias de Freud para se entender o sonho, o delírio e a criação artística.
Essa preleção foi publicada, posteriormente, no jornal
O Estado de S. Paulo,
em 20 de
março de 1919. Nesta época, a Psicanálise encontrou muita resistência dos médicos,
especialmente de psiquiatras, tanto na Europa quanto no Brasil, mas também houve
aqueles que apoiaram e se manifestaram publicamente a favor da Psicanálise, papel
assumido por Franco da Rocha.
Mais ainda, Franco da Rocha não foi um simples divulgador da Psicanálise.
Ele deu um lugar central à Psicanálise como sendo um avanço terapêutico e
científico de sua época, tanto é que introduziu a doutrina freudiana nas suas
aulas. Na aula inaugural de 1919, demonstrou uma compreensão muito
depurada da Psicanálise como ruptura do normal e do patológico que foi
explicitada pela analogia dos dois modelos: o patológico (delírio) e o normal
(sonho). (SAGAWA, 2002, p. 16).
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