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“Noticiário”, o resumo de sua palestra proferida durante a criação da
Sociedade Brasileira de
Psicanálise de São Paulo.
Acha o ilustre psychiatra que aplicação therapeutica da psychanalyse
apresenta ainda entre nós innumeras dificuldades de ordem pratica, porque
suas vantagens ainda não foram bem apprehendidas pela opinião publica,
para a qual os factos psychicos de natureza sexual não podem ser expostos
abertamente. Esse preconceito prejudica inteiramente o trabalho clinico,
principalmente quando se trata de pacientes de sexo feminino. Entende,
porém, que já é bem tempo de se fazer uma propaganda mais intensa dos
princípios psychanalyticos nas suas múltiplas aplicações, devendo-se
procurar interessar sobretudo a classe dos professores. (REVISTA..., 1928,
p.109 apud SAGAWA, 2002, p. 27).
Encontramos, neste trecho da palestra de Franco da Rocha, claros sinais da
dificuldade de se promover a Psicanálise na realidade brasileira, ele convoca até outros
profissionais, como os professores, a participarem desta divulgação, entretanto a
Revista
Brasileira de Psychanalyse
não resistiria aos obstáculos de nossa realidade, assim como a
Sociedade Brasileira de Psychanalyse do Rio de Janeiro.
O que impediria a continuidade da
publicação da Revista de 1928 e da Sociedade na década seguinte?
Podemos citar, conforme historiografia sobre o tema, alguns fatores dessas
dificuldades de divulgação e recepção da Psicanálise no Brasil que, por conseguinte,
implicaram na não continuidade da publicação da Revista de 1928.
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O primeiro,
encontramos na própria análise de Franco da Rocha, Durval Marcondes e demais
psicanalistas que enfrentam a religiosidade católica e moral conservadora da sociedade
brasileira. Franco da Rocha fala da proibição moral feita pela Igreja Católica sobre qualquer
referência à sexualidade que não seja em termos estritamente religiosos (SAGAWA, 2002,
p. 19).
Um outro obstáculo vinculado ao primeiro é a resistência encontrada no meio médico
psiquiátrico e no público leigo às chamadas verdades científicas da Psicanálise. Porto-
Carrero, em 1925, nos dá uma ideia de como era recebida a Psicanálise na época.
Entre nós... quando um médico se propõe ao emprego de métodos
psicanalíticos, encontra, via de regra, da parte do doente e sua família,
quando não ignorância sobre o que seja a filosofia de Freud, pelo menos
certa repugnância fundada sobre errôneos conceitos. (PERESTRELLO,
1987, p. 31).
As ideias de Freud foram encaradas, pelo meio médico, de forma maniqueísta ou
simplista, por uns (um pequeno grupo) a Psicanálise era idealizada como uma Ciência, por
outros como algo inconsistente e charlatanesco. No meio social e intelectual, evidenciava-se
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Apresentados de forma superficial e lacunar pelas referências que citamos neste artigo, os fatores da interrupção da
publicação da Revista merecem passar por uma investigação mais aprofundada em outro momento de pesquisa que permita
um espaço maior de análise em razão da complexidade que o tema demonstra.