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igualmente uma divisão. Nos anos 20, quando se deu a Semana da Arte Moderna de 1922,
fervilhavam ideias de mudanças. Quando a tendência era de contestação, desafio e
audácia, as ideias de Freud foram aceitas como modernas e avançadas, mas eram
rejeitadas como algo imoral pelo restante da sociedade que queria conservar a todo custo
sua
Belle Époque.
O obstáculo que, sem dúvida, mais sistematicamente levou a não continuidade da
Revista de 1928 foi a reduzida determinação do primeiro grupo de psicanalistas em mantê-la
objetivamente com a vendagem, financiamentos, logística, muitas vezes essas atividades
ficaram às expensas de Durval Marcondes (MOKREJS, 1993, p. 9). Esse fator pode ser
corroborado pelo apontamento de Sagawa (2002) sobre o interesse dos médicos psiquiatras
membros da
Sociedade Brasileira de Psychanalyse.
Depois de ter sido fundada há dois anos, a Sociedade Brasileira de
Psychanalyse não recebeu apoio significativo de médicos. É indício
ilustrativo dessa constatação um artigo jornalístico, publicado pelo
Diário da
Noite,
em primeira página, no dia 11 de março de 1929. O título deste artigo
já diz quase tudo sobre seu conteúdo: “A psychanalyse não tem merecido
em São Paulo o merecido apoio”. (SAGAWA, 2002, p. 31).
Entretanto, a não continuidade da Revista e da Sociedade não impediu a expansão,
institucionalização e produção de obras que tratavam de métodos, técnicas e regras da
Psicanálise como Ciência no Brasil. Entre as décadas de 1930 e 1960, houve muitas
publicações, conferências, encontros que dariam lastro para uma futura republicação da
Revista. Mesmo Durval Marcondes, durante este período, não deixou de publicar, sem
contar que estava mais envolvido e preocupado com a formação do psicanalista nos moldes
da IPA aqui no Brasil. Durval publicou muito em Revistas Médicas, divulgando a Psicanálise
no meio mais resistente, até ser relançada a
Revista Brasileira de Psicanálise
em 1967.
Considerações finais
Delineado o primeiro momento, décadas de 1910 e 1920, da introdução e afirmação
das ideias freudianas no Brasil e apontado o conjunto de obras impressas e publicadas que
se referenciavam a essas ideias, nesse período, identificamos que as primeiras inciativas de
discussão, debate e produção do primeiro grupo de estudiosos eram, na verdade, iniciativas
isoladas de divulgação dos temas psicanalíticos, traziam as marcas da espontaneidade e
das tendências pessoais dos seus autores que, muitas vezes, iam além do que o pai da
Psicanálise propunha (MOKREJS, 1993, p. 9). Elizabete Mokrejs (1993), psicanalista,
pedagoga, filósofa e historiadora da Educação e Psicanálise, confirma essa ideia da
seguinte forma: