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Somada ao peso de sua autoridade científica e profissional, sua crítica intelectual sobre
a Psiquiatria e Psicanálise motivou-o, em 1920, a escrever e publicar o livro
A doutrina
pansexualista de Freud,
intitulada posteriormente, em 1930, de
A Doutrina de Freud – Resumo
geral indispensável para a comprehensão da psicoanalise.
Nesta obra, Franco da Rocha faz
uma espécie de interpretação livre da teoria psicanalítica, adaptando a teoria para leitores do
ponto de vista dos preconceitos morais e religiosos da época.
(SAGAWA, 2002, p. 16).
Uma figura notória marcou a Psicanálise brasileira, Medeiros e Albuquerque, político
que apoiara a Campanha Civilista em 1910 e durante o governo de Hermes da Fonseca se
autoexilou na Suíça, teve contato mais próximo com as ideias de Freud, leu, por exemplo,
A
Interpretação do Sonhos
em inglês e, provavelmente, outras obras em alemão (MARTINS,
1976, p. 292). Além de político, era jornalista e presidente da Academia Brasileira de Letras,
proferiu na Policlínica do Rio de Janeiro, sob os auspícios da Sociedade de Neurologia e
Psiquiatria, uma conferência intitulada “Psicologia de um Neurologista – Freud e suas
Teorias Sexuais”
que foi na época muito valorizada e elogiada. Publicada em 18 de
novembro de 1919, nos Arquivos Brasileiros de Medicina, foi traduzida para o espanhol e
também publicada no jornal argentino conhecido como
Semana Médica de Buenos Aires,
e
chegou até Freud. Cyro Martins, Analista-Didata da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre,
que defende a posição precursora de Medeiros e Albuquerque na Psicanálise brasileira
exalta em seu texto “Contribuição ao Estudo da História da Psicanálise no Brasil” – no V
Congresso Brasileiro de Psicanálise de 1975 e na
Revista Brasileira de Psicanálise
de 1976
– o elogio que Freud faz ao texto de Medeiros e Albuquerque.
Ignoro como essa tradução chegou até Freud, que a leu e escreveu ao
autor agradecendo-lhe e louvando o seu trabalho. Freud dirigiu-se a
Medeiros e Albuquerque em inglês... Ei-lo: “...as kind as it is clever and that I
have to thank you for the soul of your writing as for the body of it.” (“… de
tanta qualidade e inteligência que tenho que agradecer-lhe pela alma e pelo
corpo de seu trabalho.”). (MARTINS, 1976, p. 290).
Essa famosa conferência de Medeiros e Albuquerque de 1919 foi republicada mais
tarde, 1922, como capítulo de seu livro
Graves e Fúteis.
Elogiada pelos psicanalistas,
tornou-se, no final do século XX, motivo de debate no Movimento Psicanalítico sobre quem
seria o precursor da primeira publicação sistemática da teoria freudiana. Para Cyro Martins,
a conferência de Medeiros e Albuquerque foi, com certeza, a primeira publicação.
Creio que, sem dúvida, esta conferência de Medeiros e Albuquerque
constitui a primeira exposição sistemática, fiel aos seus princípios básicos,
que se fez no Brasil sobre Psicanálise. Pensei, que este momento, o do V
Congresso Brasileiro de Psicanálise, ocorrendo 56 anos depois daquela
conferência, seria propício para evocar a página admirável e pioneira do
autor de “Graves e Fúteis”, que li com os meus amigos Mário e Lino, há 47
anos, sob a emoção jovem de que se deslumbra com a luz de novos