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A difusão das ideias psicanalíticas se fez, de modo geral, por profissionais
isolados, pertencentes à área médica. Seu interesse pelo assunto levou-os
à procura dos textos originais ou traduzidos, conforme as contingências
pessoais de cada um, pois raros eram os textos disponíveis para a
aquisição no país. As comunicações dos estudiosos do assunto centravam-
se na área terapêutica e, em alguns casos, tangenciavam questões de
domínio público conforme atestavam os movimentos na área de higiene
mental.
(MOKREJS, 1993, p. 10).
Para Mokrejs (1993), a divulgação das ideias psicanalíticas teve, nesse primeiro
momento, caráter descritivo e explicativo ao lado de uma ênfase terapêutica e moral
(MOKREJS, 1993, p. 15), mas também percebemos que o conjunto de obras produzidas e
publicadas neste período buscava temas da Educação e Cultura para discutir e afirmar a
prática científica psicanalítica. O coroamento desta particularidade na produção científica do
conhecimento psicanalítico brasileiro se deu em 1928, com publicação da
Revista Brasileira
de Psychanalyse.
Para confirmar este marco na institucionalização da Psicanálise brasileira,
relembremos os artigos publicados na Revista pelos seus colaboradores: “A psychologia de
Freud” e “Os mythos e lendas na loucura” de Franco da Rocha; “Os nossos medos secretos”
de J. Ralph; “O caracter do escolar segundo a psychanalyse”, de Porto Carrero; “Um ‘sonho
de exame’. Considerações sobre a ‘Casa de Pensão’ de Aluizio Azevedo”, escrito por Durval
Marcondes; e “Brutos. Considerações psychanalyticas em torno de um facto histórico”, de
Paulo José de Toledo.
A
Revista Brasileira de Psychanalyse
de 1928
ocupa, portanto, um lugar fundamental
na institucionalização da Psicanálise brasileira em seus primórdios, por isso sua importância
deve ir além de ligeiras citações na historiografia sobre o tema, deve ser afirmada no
contexto das vicissitudes do Movimento Psicanalítico. Ela culminou o caminho que a
Psicanálise brasileira percorreu nas décadas de 1910 e 1920, portanto, a não continuidade
da Revista, depois de 1928, não pode ser considerada um malogro da iniciativa dos
entusiastas da Psicanálise, mas uma interrupção deste veículo de expressão do Movimento
Psicanalítico brasileiro que voltaria revigorado e estruturado em 1967.
Referências
GALVÃO, Luis. de Almeida. Prado. Notas para a História da Psicanálise em S. Paulo.
Revista Brasileira de Psicanálise
, vol. 1, n. 1. São Paulo: Editora Itacolomi S/A, 1967.
LUCA, Tânia Regina de. Fontes Impressas In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.)
Fontes
Históricas
.
2. ed. São Paulo: Contexto, 2008. p. 130.