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caminhos. Conclusão: essa conferência merece ser publicada com
destaque na “Revista Brasileira de Psicanálise” (MARTINS, 1976, p. 292).
Marialzira Perestrello reconhece a seriedade de postura de Medeiros e Albuquerque,
afirma que ele possui uma compreensão profunda sobre a obra de Freud, como é possível
verificar em sua obra
Hipnotismo
,
de 1923. Entretanto, essa psicanalista, não defende que a
conferência de 1919 seja a primeira sistematização e instituição da Psicanálise no Brasil e,
dessa forma, se contrapõe claramente a Cyro Martins.
Tenho de divergir de Cyro Martins quanto ao fato de considerar a
conferência de Medeiros e Albuquerque “a primeira exposição sistemática,
fiel a seus princípios básicos, que se fez no Brasil sobre Psicanálise”, pois,
como citou Almeida Prado Galvão, Franco da Rocha fez uma palestra de
conteúdo psicanalítico e publicou-a em março de 1919. Mais ainda,
comprovei no livro
Doutrina de Freud
terem sido várias as palestras para os
alunos durante esse ano. Ora, a conferência de Medeiros e Albuquerque foi
proferida somente em novembro de 1919. Assim, é indiscutível que Franco
da Rocha, em São Paulo, precedeu a Medeiros e Albuquerque, no Rio.
(
PERESTRELLO, 1987, p. 15).
Ultrapassando e desfazendo o limite entre precursores e pioneiros, a relevância de
dois médicos psiquiatras para a institucionalização da Psicanálise brasileira tornou-se
inquestionável, trata-se de Júlio Pires Porto-Carrero e Durval Bellegarde Marcondes. Porto-
Carrero foi, indiscutivelmente, o que mais publicou obras sobre a Psicanálise no Brasil
durante a década de 1920; Durval Marcondes, formado médico em 1924, deu os passos
fundamentais para a criação da primeira
Sociedade Brasileira de Psychanalyse e a Revista
Brasileira de Psychanalyse.
Da forte produção de Porto-Carrero sobre Psicanálise entre os anos de 1924 e 1929
podemos citar: trabalho sobre
Monoplegia histérica curada pelo método de Freud
(1924),
Caso de sinistrose tratado pela Psicanálise
(1924)
, Aspectos clínicos de Psicanálise
(1925),
Educação e Psicanálise
(1926),
Contra o Alcoolismo pela Psicanálise
(1927),
Variações
sobre o Narcisismo
(1927),
O caráter escolar segundo a Psicanálise
(1927), prefácio para o
livro
A Psicanálise da Educação
(1927) de Deodato Moraes,
Conceito e História da
Psicanálise
(1928),
O Ponto de Vista Metapsicológico
(1928),
Da conjugação dos símbolos
(1928),
Conceito Psicanalítico da Pena
(1928),
Psicanálise e Aplicações Médico-Legais
(1929). Porto-Carrero também escreveu e continuou publicando muito durante a década de
1930, mas seu tema central passa ser a questões implicadas ao Direito a partir da
Psicanálise.
A contribuição de Porto-Carrero à institucionalização da Psicanálise brasileira é
indiscutível, não se pode esquecer que em maio de 1924 ele criou a clínica psicanalítica na
Liga Brasileira de Higiene Mental no Rio de Janeiro. Verificamos que Porto-Carrero é tema
específico de pesquisas sobre a História da Psicanálise. Carmem Lucia Montechi