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O mérito de
O Ocidente
, dessa forma, consiste em querer ser uma obra portuguesa
autêntica, ou seja, sem deixar de lado a cultura, a arte e a sociedade nacional, projetar
Portugal para uma vida moderna. Esse objetivo aproxima-se do projeto das Conferências do
Casino, realizadas em 1871, sete anos antes do lançamento da revista. Lideradas por
Antero de Quental, as conferências ambicionavam reformar a sociedade portuguesa por
acreditar não ser possível a um povo que foi o grande descobridor das civilizações,
continuar isolado das grandes transformações intelectuais do seu tempo.
A revista, tentando obedecer aos conselhos que o pensador francês Voltaire já havia
dado aos jornalistas – “o único meio de um periódico poder vingar, entre tantos outros que já
no seu tempo enchiam a França, resumia-se em duas palavras: ser imparcial” –, desde sua
primeira edição até o seu último ano de publicação, postava-se como uma fonte imparcial,
anunciando-se independente de qualquer programa político. Em 1883, ao comentar sobre
as eleições municipais do país, Gervásio Lobato, diretor literário da revista, afirmava que
O Ocidente
não apoiava nenhum dos partidos existentes – republicano, progressista e
regenerador –, pois não era um jornal de discussão, tampouco um jornal político e, por isso,
ou seja, por ser livre das paixões partidárias, não tinha que se submeter “às vozes de
comando”, sendo inteiramente “senhora de sua opinião e imparcialidade”: “Não somos
comparsas do espetáculo político, somos simplesmente espectador, e, como tal, temos
completamente livre de peias a nossa liberdade de crítica” (LOBATO, 1883, p. 1). No
entanto, apesar de colocar-se como um jornal imparcial, como ocorria com muitos periódicos
portugueses da época, a palavra imparcialidade inserida nos seus discursos e no programa
inicial funcionava apenas como um meio de atrair o leitor, pois, como ressalta Maria de Sá
sobre as revistas daquele período, “poucas ou quase nenhuma, conseguiam manter-se fiel
aos princípios apregoados” (1986, p. 82). Desta forma, a revista
O Ocidente
como deixa
depreender da leitura de suas páginas, está entre estes periódicos, pois afirmava sua
imparcialidade política, mas, na prática, servia para enaltecer as ações do governo e da
aristocracia.
Sendo uma revista de informação e entretenimento,
O Ocidente
apresentava seções
variadas, muitas das quais permanentes, ou textos distribuídos em suas páginas que
obedeciam à fórmula do “continua no dia subsequente”, ou seja, textos em seriação que “por
si só instigava a leitura seguinte garantindo o consumo do impresso enquanto lá se
encontrasse" (MARTINS, 2001, p. 148).
Assim, a revista postava-se como uma abordagem múltipla em que de tudo tratava
um pouco. Em suas páginas encontram-se artigos sobre: economia, comércio, indústria,
história, filosofia, arte, questões sociais e militares. Apresenta, ainda, estudos introdutórios