Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 294

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historicamente seus processos técnicos, artefatos, estilos e usos. A outra distinção remete à
história através da fotografia
; isto é, utilizando-a como um meio para investigação de uma
memória visual construída (cena passada), a fim de melhor explicar uma temática. As duas
possibilidades não se separam, pois utilizam como núcleo de investigação o documento
fotográfico (KOSSOY, 2001, p. 53-57).
Utilizando-se, contudo, da máxima de que “Toda fotografia é um resíduo do passado.
Um artefato que contém em si um fragmento determinado da realidade registrado
fotograficamente.” (KOSSOY, 2001, p. 45). Quais são as dificuldades ao se trabalhar com a
fotografia? E quanto à memória que ela pode produzir? Seria ela, uma memória que de fato
produz preservação de uma história ou, pelo contrário, faz desta história algo naturalizado,
distorcido, silenciado ou enquadrado dentro da memória?
Como alerta Kossoy (2001, p. 27), este novo documento visual, embora não sendo
tradicional quanto o documento escrito, por exemplo, aparentava verdade sobre algo,
proporcionava recordações e emoções, o que promoveu em termos de pesquisa,
desconfianças e preconceitos. Cabe ao historiador ler nas entrelinhas desses documentos,
indagando a imagem em si, sua época e espaço de produção, autor e, também, os
interpretadores da imagem. Neste último caso, o historiador pode até perceber as
mentalidades, ideologias e identidades contidas em análises anteriores. Isto é, “As próprias
distorções encontradas em antigas representações são evidência de pontos de vista
passados ou ‘olhares’”. (BURKE, 2004, p. 38).
Para Alessandro Portelli, em
O massacre de Civitella Val di Chiana (Toscana: 29 de
junho de 1944): mito, política, luto e senso comum
, a memória é, antes de tudo, uma
construção individual, pois pessoas se lembram de acontecimentos e não de grupos inteiros.
Nesse sentido, o autor argumenta:
Se toda memória fosse coletiva, bastaria uma testemunha para uma cultura
inteira; sabemos que não é assim. Cada indivíduo, particularmente nos
tempos e sociedade modernos, extrai memórias de uma variedade de
grupos e as organiza de forma idiossincrática. Como todas as atividades
humanas, a memória é
social
e pode ser
compartilhada
(razão pela qual
cada indivíduo tem algo a contribuir para a história “social”), mas do mesmo
modo que
langue
se opõe a
parole
, ela só se materializa nas reminiscências
e nos discursos individuais. Ela só se torna memória coletiva quando é
abstraída e separada da individual: no mito e no folclore [...], na delegação
[...], nas instituições. (PORTELLI, 1998, p. 127).
Como disse Ecléa Bosi (1994, p. 411), em
Memória e Sociedade: Lembrança dos
Velhos
, mesmo que haja um tesouro comum que forma esta memória coletiva, é o indivíduo
que recorda e memoriza os acontecimentos segundo sua própria seleção. Nesta perspectiva,
mesmo que for encontrado em uma ou mais fotografias, representações de memória coletiva,
teríamos que compará-las com outras fontes. Esta análise proporciona questionar
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